domingo, 13 de maio de 2018

À propósito do fascismo como movimento de “ esquerda”


Expliquei há muitos artigos atrás que o fascismo,como o nacional-socialismo alemão(que veio primeiro como conceito)nasceu das hesitações da revolução de 1848.Os alemães ,abandonados pela “ revolução internacional”,criaram o termo “ revolução nacional”.Wagner criou este termo acentuando o aspecto essencial do anti-semitismo,da repulsa dos judeus como forma de afirmação da Alemanha em seu processo de unificação.Engels chamou o anti-semitismo de “ o socialismo dos imbecis” e ressaltou mais ainda o uso deste preconceito para edificar uma nação.
Nos artigos anteriores eu caracterizei o grupo social que elabora estas teorias como o “ oportunismo das revoluções”.Em todas elas,desde a primeira revolução moderna ,a de 1640 na Inglaterra,aparece aquele que não tem real vinculação com o processo (coletivo)de mudança,mas com os seus interesses pessoais,de ascensão social e financeira.
Esse fenômeno se tornou mais claro na Revolução Francesa  com  a fase pré-Napoleão,chamada de “ Reação Termidoriana”,analisada depois,a respeito da Revolução Russa,por Trotsky.
Este oportunista social(tão presente em Balzac[que o chamava  de arrivista])nasce na esquerda e permanece nela até ao momento em que os seus interesses pessoais sejam ou não reconhecidos e realizados.
Nas revoluções autênticas(poucas)ou ele desaparece ou busca um caminho,aí sim,de direita.
Foi o que aconteceu no seio do socialismo.Em 1914 ,por razões teóricas,os socialistas da II Internacional,apoiaram a nação alemã,no seu esforço de guerra,votando ,no parlamento,os créditos de guerra.
Não dá para aprofundar isto aqui,uma discussão que vem do século XIX e que envolveu Engels,mas é bom lembrar a razão disto:num determinado momento apoiar a nação se sobrepunha ao problema da luta de classes,porque  tal atitude favoreceria a hegemonia da Rússia.Há um exemplo histórico:os socialistas não apoiaram ,em certa ocasião,uma revolta da Polônia contra o Império Russo,porque isto desencadearia e justificaria  uma onda reacionária na Europa.Depois que este perigo deixou de existir,a revolução polonesa foi admitida(por Lênin inclusive).
A votação dos créditos de guerra atendeu a um propósito semelhante,de contenção da Rússia e da onda reacionária,mas eu aduzo um outro motivo:não ficar contra os operários de seus respectivos países,já que os partidos socialistas todos fizeram o mesmo que o alemão.
Acreditava-se em 1914 que a guerra seria rápida,mas ela se prolongou, e em 1916 entrou num impasse histórico e político:motins nas trincheiras do ocidente e do oriente;participação ativa dos políticos(substituindo os generais),após eleições na Inglaterra(David Lloyd George)e França(Clemenceau) e reunião da internacional socialista que mudou de opinião sobre a guerra.A Internacional passou a defender predominantemente o pacifismo,mas determinados setores e membros dela foram cooptados por interesses nacionais e nacionalistas,uma vez que os governos envolvidos no conflito não queriam deixar a guerra de maneira desonrosa e prejudicial aos seus objetivos,inclusive coloniais.De 1916 a 1918 a questão foi esta e aqueles extratos oportunistas se prestaram a uma recusa do pacifismo e deixaram o socialismo.O principal  representante destes setores todo mundo já sabe:Mussolini,figura política chave no século XX e fundador do fascismo,movimento de direita.
Movimento de direita porque associado a um nacionalismo xenófobo,imperialista e calcado em formas tradicionais de preconceito como o anti-semitismo.
Então não me venham com esta de fascismo ser de esquerda,porque não é.
FHC me cita.




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