Homenagem
crítica ao dia da mulher
Costuma-se
dizer que todos estes grupos de homens que se reúnem em torcidas ou
gangues,ocupadas em praticar violência continuada,não gostam essencialmente de
mulher,num característico modo de vida misógino.Isto é parcialmente
verdade.Porque nestes grupos a mulher está presente e fomenta a violência.
Desde
os estudos de Engels,passando por Freud,a antropologia , Herman Kahn e Marcuse que a civilização é identificada
acertadamente com o patriarcado ,que desalojou o matriarcado original.Engels,em
seu “ A origem da Família,Propriedade Privada e do Estado” fala na relação do
período nômade,bárbaro,com a espada, a “ arma decisiva”,que teve um papel
fundamental na organização das primeiras
cidades,porque as aristocracias militares submeteram a comunidade
primitiva,juntamente com potentados econômicos e a religião,como se vê no Velho Testamento.
A
espada é um símbolo fálico e patriarcal,como revelou Herman Kahn e Marcuse.No
entanto,até ao surgimento do Império Romano e do cristianismo dentro dele, este
patriarcalismo era puramente repressivo,pura imposição de comportamentos com
base em critérios machistas.
O
desenvolvimento do cristianismo é indissolúvel da família romana.Como sabemos a
família romana era encabeçada pelo Pater Familias,que detinha o direito de vida
e de morte sobre todos os da casa,da esposa até o mais simples escravo.Aliás
todos eram escravos de fato do Patriarca da família.Com o crescimento e
ampliação do Império ,a ausência de inimigos,tornou os romanos sem travas,sem
limites,sem objetivos.
Grande parte do sucesso do cristianismo foi porque ofereceu novos valores a perseguir para este império,mas ele conseguiu isto dentro de um contexto específico:a família referida.
Grande parte do sucesso do cristianismo foi porque ofereceu novos valores a perseguir para este império,mas ele conseguiu isto dentro de um contexto específico:a família referida.
A
Matrona romana era muito manipulada e agredida dentro deste
patriarcalismo,especialmente no conhecido e crescente significado do sexo para
o romano médio.
Os
cultos de Isis ,na época de Calígula,e outros,provindos do Oriente ,começaram a
dar uma compensação à mulher romana tradicional.E daí,destes cultos para o da
Virgem,foi um passo.O caráter repressivo sexual deu lugar a um novo papel da
mulher.Contudo, isso não representava o fim do patriarcalismo no cristianismo.Muita
gente se impressiona com os critérios axiológicos preconizados por São Paulo em
relação à mulher,mas o que ele fez foi seguir a sua formação romana.A
mulher,como eu disse,era “ serva”(escrava)do Pater Familias,mas o direito de
vida ou de morte acabou.
De
lá até aqui o cristianismo se modificou
muito,ora dando mais espaços à mulher,ora reprimindo,mas a rigor,a sua posição
subalterna prosseguiu.
Dentro
deste contexto,a mulher desenvolve a sua psicologia e a sua relação com o
mundo.Os espaços de luta da mulher aumentaram consideravelmente,como é de
justiça e de direito,mas,lembrando Foucault,a mentalidade da mulher,pelo menos
a latina e a brasileira em particular,continua no passado e presa a este
contexto cristão patriarcal,em que é formada.Isto na média,bem entendido.
É
preciso reconhecer que só existe uma liberação da mulher a partir da década de
60 do século passado.Isto não é nada no tempo histórico,mas nós não podemos
comparar o comportamento repressivo da sociedade do passado,com a
permissividade(legítima)dos dias atuais.
Isto
impõe um novo comportamento mais livre e mais igualitário da mulher,em relação
ao homem.E vice-versa.Tudo bem.Ponto.
Direitos
iguais,deveres iguais,mas a cabeça da mulher,na média,ainda não mudou suficientemente
para se livrar,ela própria,do patriarcalismo.Porque se há uma manipulação e
repressão da mulher,a mesma ,reagindo, o usa também.
No
caso da violência ,a misoginia, o machismo,a violência é ensinada aos filhos
homens,pela mãe,que,por sua vez,exige de seu companheiro,no plano sexual e de
autoridade,um comportamento patriarcal,identificado,sempre,como a condição
masculina genéticamente considerada.
Quer
dizer,aquilo que é social,é tido,inclusive pela mulher,como parte do
comportamento do gênero masculino,como se houvesse um padrão de gênero masculino
e/ou feminino definido desde sempre(natural).É impossível explicar isto à
mulher média do Brasil,ou seja,que cada pessoa,individual,tem os seus
valores,para além da sua bagagem genética.
A
mulher exige do homem um comportamento não social,mas animal,genético.A forma
de comprovação do amor,do compromisso amoroso é a violência.É o famoso “ complexo
de cinderella” que os psicólogos não aceitam,mas que existe no plano dos
costumes.
O
esforço de igualdade que a mulher propõe,legitimamente(e que deve ser acolhido
pelo homem),impõe mudanças neste comportamento da mulher também.O paradigma
natural,genético,animal,da conquista,tem que ser mudado,mas a mulher (repito na
média)não compreende isto.É claro que a conquista,o desejo de ser conquistada é
legítimo também,mas isto não é uma regra geral possível de se realizar o tempo
todo e nem é uma exigibilidade para o homem.Quando o homem se recusa a ficar
com uma mulher é acusado de não ser homem.É acusado de discriminar.
A
mulher entende que superar outro homem na conquista,é prova de masculinidade,mas,na
verdade,a preocupação de um homem em conquistar uma mulher de outro,revela a
sua insegurança.A necessidade de ser
melhor do que outro homem é mais próximo do que chamaríamos “ frescura”(maricagem)do
que convencer uma mulher pura e simplesmente.No fundo, a traição do passado(tão
analisada por Nelson Rodrigues)era até admissível,porque a repressão era
real,mas hoje o ato de trair tem um significado político de “ empoderamento”.A
mulher inventa um pretexto para abandonar o seu companheiro,a fim de preencher
a sua necessidade egocêntrica de reconhecimento e obter,às vezes,sem razão,um
papel de poder na sociedade.Ela não é reconhecida por um,mas por outro(e pelo
mundo masculino).
Este
modo de agir é uma perversão do que se aprende na Igreja Católica,na
superstição do culto da Virgem.Quer dizer,a mulher se torna intocável(como a
Virgem) e joga com o mundo masculino,no afã de obter poder e
reconhecimento,através das relações sexuais.A traição não é mais permitida numa
sociedade mais aberta como a nossa.
A
provocação da prova amorosa,é ,ao contrário a forma da mulher de manipular a
seu favor o patriarcado.É mais poder do que amor,mais egocentria(da mulher)do
que amor.E é mais medo,insegurança(da mulher)do que maturidade,do que amor.
O
comportamento vitimológico,no passado,era já uma defesa da mulher,mas
hoje,menos cabível,ela serve ao mesmo propósito,com a diferença de que a mulher
é mais ativa.A mulher tem o direito de exigir do homem que lave a roupa,faça a
comida,cuide das crianças,mas não o de ,eventualmente,humilhar o companheiro.
O
movimento feminista não há de negar que existem mulheres que humilham
empregadas,que exercem repressão típica da casa-grande;e que exigem um
comportamento violento do homem,nestas gangues ,como prova de masculinidade.
Um
dos fenômenos sociais em que o materialismo histórico pode e deve ser aplicado
é este,o da emancipação definitiva da mulher.Não há contradição entre a
condição social e de trabalho da mulher e a sua ascensão.Quanto mais ela ganhar
financeiramente mais capaz de escapar deste complexo de cinderella,complexo
patriarcal, ela será.Mas na Suécia,há dez anos(um país evoluidíssimo),a mulher
chegou a passar o homem e os problemas de violência doméstica aumentaram,porque
os homens eram destratados pelas esposas,pelas companheiras.Como resolveram a
questão?No diálogo,saindo ,ambos os gêneros deste patriarcalismo.Está faltando
isto no Brasil e no feminismo.
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