quinta-feira, 8 de março de 2018

A mulher também fomenta a violência



Homenagem crítica ao dia da mulher



Costuma-se dizer que todos estes grupos de homens que se reúnem em torcidas ou gangues,ocupadas em praticar violência continuada,não gostam essencialmente de mulher,num característico modo de vida misógino.Isto é parcialmente verdade.Porque nestes grupos a mulher está presente e fomenta a violência.
Desde os estudos de Engels,passando por Freud,a antropologia , Herman Kahn  e Marcuse que a civilização é identificada acertadamente com o patriarcado ,que desalojou o matriarcado original.Engels,em seu “ A origem da Família,Propriedade Privada e do Estado” fala na relação do período nômade,bárbaro,com a espada, a “ arma decisiva”,que teve um papel fundamental na organização  das primeiras cidades,porque as aristocracias militares submeteram a comunidade primitiva,juntamente com potentados econômicos e  a religião,como se vê no Velho Testamento.
A espada é um símbolo fálico e patriarcal,como revelou Herman Kahn e Marcuse.No entanto,até ao surgimento do Império Romano e do cristianismo dentro dele, este patriarcalismo era puramente repressivo,pura imposição de comportamentos com base em  critérios machistas.
O desenvolvimento do cristianismo é indissolúvel da família romana.Como sabemos a família romana era encabeçada pelo Pater Familias,que detinha o direito de vida e de morte sobre todos os da casa,da esposa até o mais simples escravo.Aliás todos eram escravos de fato do Patriarca da família.Com o crescimento e ampliação do Império ,a ausência de inimigos,tornou os romanos sem travas,sem limites,sem objetivos.
Grande parte do sucesso do cristianismo foi porque ofereceu novos valores a perseguir para este império,mas ele conseguiu isto dentro de um contexto específico:a família referida.
A Matrona romana era muito manipulada e agredida dentro deste patriarcalismo,especialmente no conhecido e crescente significado do sexo para o romano médio.
Os cultos de Isis ,na época de Calígula,e outros,provindos do Oriente ,começaram a dar uma compensação à mulher romana tradicional.E daí,destes cultos para o da Virgem,foi um passo.O caráter repressivo sexual deu lugar a um novo papel da mulher.Contudo, isso não representava o fim do patriarcalismo no cristianismo.Muita gente se impressiona com os critérios axiológicos preconizados por São Paulo em relação à mulher,mas o que ele fez foi seguir a sua formação romana.A mulher,como eu disse,era “ serva”(escrava)do Pater Familias,mas o direito de vida ou de morte acabou.
De lá até aqui o cristianismo se  modificou muito,ora dando mais espaços à mulher,ora reprimindo,mas a rigor,a sua posição subalterna  prosseguiu.
Dentro deste contexto,a mulher desenvolve a sua psicologia e a sua relação com o mundo.Os espaços de luta da mulher aumentaram consideravelmente,como é de justiça e de direito,mas,lembrando Foucault,a mentalidade da mulher,pelo menos a latina e a brasileira em particular,continua no passado e presa a este contexto cristão patriarcal,em que é formada.Isto na média,bem  entendido.
É preciso reconhecer que só existe uma liberação da mulher a partir da década de 60 do século passado.Isto não é nada no tempo histórico,mas nós não podemos comparar o comportamento repressivo da sociedade do passado,com a permissividade(legítima)dos dias atuais.
Isto impõe um novo comportamento mais livre e mais igualitário da mulher,em relação ao homem.E vice-versa.Tudo bem.Ponto.
Direitos iguais,deveres iguais,mas a cabeça da mulher,na média,ainda não mudou suficientemente para se livrar,ela própria,do patriarcalismo.Porque se há uma manipulação e repressão da mulher,a mesma ,reagindo, o usa também.
No caso da violência ,a misoginia, o machismo,a violência é ensinada aos filhos homens,pela mãe,que,por sua vez,exige de seu companheiro,no plano sexual e de autoridade,um comportamento patriarcal,identificado,sempre,como a condição masculina genéticamente considerada.
Quer dizer,aquilo que é social,é tido,inclusive pela mulher,como parte do comportamento do gênero masculino,como se houvesse um padrão de gênero masculino e/ou feminino definido desde sempre(natural).É impossível explicar isto à mulher média do Brasil,ou seja,que cada pessoa,individual,tem os seus valores,para além da sua bagagem genética.
A mulher exige do homem um comportamento não social,mas animal,genético.A forma de comprovação do amor,do compromisso amoroso é a violência.É o famoso “ complexo de cinderella” que os psicólogos não aceitam,mas que existe no plano dos costumes.
O esforço de igualdade que a mulher propõe,legitimamente(e que deve ser acolhido pelo homem),impõe mudanças neste comportamento da mulher também.O paradigma natural,genético,animal,da conquista,tem que ser mudado,mas a mulher (repito na média)não compreende isto.É claro que a conquista,o desejo de ser conquistada é legítimo também,mas isto não é uma regra geral possível de se realizar o tempo todo e nem é uma exigibilidade para o homem.Quando o homem se recusa a ficar com uma mulher é acusado de não ser homem.É acusado de discriminar.
A mulher entende que superar outro homem na conquista,é prova de masculinidade,mas,na verdade,a preocupação de um homem em conquistar uma mulher de outro,revela a sua insegurança.A necessidade de  ser melhor do que outro homem é mais próximo do que chamaríamos “ frescura”(maricagem)do que convencer uma mulher pura e simplesmente.No fundo, a traição do passado(tão analisada por Nelson Rodrigues)era até admissível,porque a repressão era real,mas hoje o ato de trair tem um significado político de “ empoderamento”.A mulher inventa um pretexto para abandonar o seu companheiro,a fim de preencher a sua necessidade egocêntrica de reconhecimento e obter,às vezes,sem razão,um papel de poder na sociedade.Ela não é reconhecida por um,mas por outro(e pelo mundo masculino).
Este modo de agir é uma perversão do que se aprende na Igreja Católica,na superstição do culto da Virgem.Quer dizer,a mulher se torna intocável(como a Virgem) e joga com o mundo masculino,no afã de obter poder e reconhecimento,através das relações sexuais.A traição não é mais permitida numa sociedade mais aberta como a nossa.
A provocação da prova amorosa,é ,ao contrário a forma da mulher de manipular a seu favor o patriarcado.É mais poder do que amor,mais egocentria(da mulher)do que amor.E é mais medo,insegurança(da mulher)do que maturidade,do que amor.
O comportamento vitimológico,no passado,era já uma defesa da mulher,mas hoje,menos cabível,ela serve ao mesmo propósito,com a diferença de que a mulher é mais ativa.A mulher tem o direito de exigir do homem que lave a roupa,faça a comida,cuide das crianças,mas não o de ,eventualmente,humilhar o companheiro.
O movimento feminista não há de negar que existem mulheres que humilham empregadas,que exercem repressão típica da casa-grande;e que exigem um comportamento violento do homem,nestas gangues ,como prova de masculinidade.
Um dos fenômenos sociais em que o materialismo histórico pode e deve ser aplicado é este,o da emancipação definitiva da mulher.Não há contradição entre a condição social e de trabalho da mulher e a sua ascensão.Quanto mais ela ganhar financeiramente mais capaz de escapar deste complexo de cinderella,complexo patriarcal, ela será.Mas na Suécia,há dez anos(um país evoluidíssimo),a mulher chegou a passar o homem e os problemas de violência doméstica aumentaram,porque os homens eram destratados pelas esposas,pelas companheiras.Como resolveram a questão?No diálogo,saindo ,ambos os gêneros deste patriarcalismo.Está faltando isto no Brasil e no feminismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário