Eu
venho intentando ,desde que o PSOL se colocou contra a intervenção,escrever um
artigo crítico sobre este partido e suas lideranças.Os acontecimentos se
precipitaram ,como todos estamos vendo,inclusive com a morte trágica da
vereadora Marielle e seu motorista,com as repercussões que sabemos,adiando este
meu propósito.
Normalmente
eu não escrevo artigo nenhum sem antes analisar todas as informações e ter
certeza do que efetivamente ocorre.Mas neste caso,como tudo parece muito
nebuloso,e a perspectiva de descoberta das motivações do crime ser a de levar
muito tempo,não posso deixar de comentar os fatos.
Inicialmente,para
mim este crime era claramente uma provocação da direita,para criar uma comoção,um
conflito,que fosse justificando,paulatinamente,um golpe de força,conforme o
desenho,claro,que eu venho mostrando aqui no blog e que eu não repudio e que é a base destas minhas
considerações.
Agora
uma desembargadora afirma o envolvimento de Marielle com traficantes,com o
banditismo,coisa que eu não tenho ainda confirmação.
De
qualquer maneira a minha apreciação de toda a situação política brasileira e do
papel da esquerda radical é a mesma,desde há 5 ou 6 anos.
Por
erros do radicalismo de esquerda,que ainda trabalha com uma visão ultrapassada
de classe e que teve influência no governo desastroso de Lula/Dilma,a direita
cresceu enormemente.Eu venho denunciando isto este o tempo todo.” A direita
,assim,vai comer o bife”.
Escrevi
um artigo,há muitos anos,sobre as opiniões de Tancredo Neves sobre a esquerda
brasileira,com a qual teve o contato na época da redemocratização e sua eleição
para presidente.Naquele então Tancredo afirmou que se impressionava com a
esquerda,com seu furor explicativo,isto é,desejo de falar e explicar tudo,a
todo momento.E ele fez uma afirmação que eu aprovo inteiramente:” O Brasil,com
as esquerdas que tem,pode se dar ao luxo de não ter direita”.A esquerda erra
pelos dois lados.
Os
erros referidos da esquerda aprofundaram este vaticínio de Tancredo,no sentido
de que fez nascer a direita tradicional clássica ,no Brasil.Uma direita
monárquica,integrista,ultra-religiosa e assim por diante.A desmoralização da
esquerda induz ao povo a acreditar que estes integrismos são capazes de dar
estabilidade social e política ao país e ainda mais,quando as maiorias
religiosas são insufladas,ficam sequiosas de poder,mesmo num estado laico,como
o nosso.A vida real passa por cima dos idealismos e da justiça.
Também,neste
meu blog ,eu caracterizei o nosso tempo como o período histórico da “
farsa”,conforme Marx/Hegel:estamos dando continuidade a 1964,com algumas
diferenças.Eu fui criticado(sem ser citado)pelos radicais,que lançaram a
consigna de que “ agora vai ser diferente”,ou seja, desta vez eles têm
condições de enfrentar,pela revolução,o mundo conservador e burguês.Mas esta
consigna só confirma aquilo que eu tenho dito.
É
dentro destas balizas que eu analiso estes crimes e manifestações decorrentes.Ao
se colocar contra a intervenção o PSOL cometeu um erro político evidente e de
acordo com o seu radicalismo e idealismo vazio.Ele entrou exatamente no
contexto que a direita queria para criar uma agitação que justifique um golpe
de força.Porque dentro de sua visão de classe,exclusivista ,de só apoiar os
excluídos,parece culpabilizar a classe
média,que apoiou a intervenção.Sopa no mel para a direita,que açula a classe
média em seu favor.Eu disse:o apoio à intervenção é para proteger os setores
menos favorecidos.O simples reconhecimento desta necessidade e sua
publicização,pelo menos,oferecem a oportunidade de compromisso dos governos
quanto à proteção deste setores.O homem de bem da comunidade é ATERRORIZADO
PELO BANDIDO.
Ainda
que eu concorde com a esquerda quanto ao valor relativo das UPPS,não se trata de acabar
com elas,mas de aprofundar o seu papel social.O discurso da esquerda deveria ser no sentido de preencher esta lacuna,com um
discurso de participação plena na democracia e no processo social.
A
esquerda é a mesma de sempre,desde os tempos de Prestes.Prestes ficou de fora de
1930,porque só acreditava no confronto revolucionário com a burguesia.Se o
Partido Comunista tivesse apenas feito trabalho de massas,como reconheceu
depois da derrota de 35,jamais teria sido fechado em 1948.Em 1950,por causa do
fechamento,Prestes e o partido reiteraram a besteira de confrontar ,ao invés de
atuar,mesmo na clandestinidade,junto às massas,numa flagrante ignorância
(tipicamente stalinista)da prática leninista.Lênin preparou as massas durante
25 anos,com paciência e compreensão política de seu tempo.
Em
1964,quando este programa foi superado,pela incorporação da democracia,repetiu-se
a radicalização e agora a esquerda vive a mesma tentação.Conversando com
integrantes da esquerda,do PSOL,percebe-se que “ democracia” é uma palavra
vazia e hesitante na boca dos militantes.A esquerda brasileira foi sempre bipolar.Fala
em democracia como finalidade(valor estratégico),mas se o “ cavalo passar
encilhado” ela monta, não resiste.
Outro
elemento cresceu,a partir do inicio dos anos oitenta: a relação da esquerda com
o crime.Sebastião Nery conta e eu acompanhei na época,como Brizola deixou de
lado a repressão ao nascente tráfico ,comandado pelo comando vermelho,que ele
chamava de“ os rapazes”.As prisões ficaram na mão dos bandidos.Usuários de
drogas dos partidos de esquerda(principalmente o PDT) chegaram ao cúmulo de
tentar legitimar a sua vinculação com o crime ,taxando os traficantes de “ os
novos intelectuais orgânicos”,usando Gramsci!
SE
É VERDADE QUE A LEI NÃO É APLICADA IGUALMENTE A TODOS,NÃO É VERDADE QUE A SUA
APLICAÇÃO SEJA CONTRA O POBRE.O POBRE ,BOM CIDADÃO,NÃO SE BENEFICIA DA
ATIVIDADE CRIMINOSA DOS TRAFICANTES.
É
verdade sim que existe por parte da esquerda brasileira uma relação ambígua com
o bandido,que é visto,muitas vezes,como explorado e como ativista.A crítica do
conservadorismo e da burguesia,é dirigida aos setores pobres ,influenciados em
sua maioria pela religião,que ataca o programa dos radicais.A esquerda nunca
incorporou a “ autonomia das idéias”,sempre confundindo o problema material com
os valores e a cultura.
A
democracia dita burguesa deixou de sê-lo há muito tempo,principalmente depois
da eleição de um operário,coisa tida como impossível por Prestes.A atuação na
democracia implica em reconhecimento da legitimidade da cidadania como um todo,não
permeada pelo problema de classe.
O
marxismo e a esquerda,eu também já me referi a isto,diagnosticam bem,mas na
hora da construção se atrapalham.Não é como erradamente diagnostica Luiz Felipe
Pondé,que a esquerda é uma “jogada de
marketing”,porque ela é a única que
se interessa pelo problema social.Mas
nesta relação com os pobres ,a falta de base gera uma série de
distorções,demagógicas,eleitorais,vanguardistas,que só reproduzem,de forma
cínica e escandalosa ,a exploração que ela diz combater.Se se quer mudar o
mundo,superar a sociedade burguesa,tem que ser diferente dela,das suas
práticas.No fundo pó necessidade eleitoral a auto-critica fica congelada para
não perder as eleições.O trabalho de massa não é feito porque ser verdadeiro e
honesto com os setores populares arrisca a eleição.O povo brasileiro não é
diferente dos outros povos,mas ele tem
características exterministas,violentas,desprezo pelo conhecimento,INCLUSIVE OS
POBRES.
Como
não há ligação entre o usuário de droga e o crime?Quantas crianças são
acorrentadas por pais sofridos para que não se droguem?Quantos pais sofridos
morrem nas mãos de filhos com abstinência?
A
vinculação da esquerda com a religião(contra Marx) produz distorções
também.Marx dizia que o comunismo nascia da capacidade produtiva do
capitalismo,mas não só(erro de Marx).Algumas instituições como a democracia e a nação nascem com a
burguesia,mas já não são só dela.Marx deriva o seu pensamento ,desde a
juventude,duma crítica ao fetichismo católico,que repudiava o mundo em favor do
mundo sempiterno.Marx era herdeiro da reforma protestante ,que não rejeitava o
mundo,mas se propunha a transformá-lo(11ª Tese Ad Feuerbach).Daí ele
retirou a concepção do comunismo saindo
do capitalismo(entre outros elementos bem compreendido).
O
mundo não é feito de Gandhis.Martin Luther Kings ou São Franciscos ou Santas Claras,mas
Hitlers e Stalins.A contraposição entre segurança e democracia,que Freixo e o
PSOL fazem e que fundamentaram a sua virada de costas ao Rio de Janeiro,tem
origem exatamente no fetichismo cristão,na rejeição religiosa do mundo.A
democracia tem que ser forte.É lógico que o diagnóstico é que o pobre é mais
atingido pela violência,mas isto não autoriza uma ruptura de classe na
democracia,do tipo,só os pobres sofrem,só os pobres exercem a cidadania,só os
pobres têm que ser protegidos.Absolutamente.
Isso
é um erro desde a idealização de Rousseau,do “ Bom Selvagem”.O Estado
Totalitário não é o da segurança,mas o da falta de.Onde está escrito que os
regimes fascistas e o totalitarismo estalinista se baseavam no cumprimento da
Lei?Era o contrário:havia a lei,que era transgredida constantemente.O conceito
de segurança é baseado na lei.
Se
alguém entrar nestes partidos de esquerda,fala-se até em supressão das forças
armadas.Um bando de crianças.Mas há pessoas qualificadas,como Maria Lúcia
Karam,que repetem esta bobagens.
É
lógico que o encarceramento atende a interesses de classe,raciais.É lógico que
as prisões não resolvem o problema,mas não dá para de uma hora pensar em abolição.Fazer uma educação das crianças na
escola para não praticar buylling contra homoafetivos,tudo bem,mas outra coisa
é induzir crianças a esta prática,sem consciência,sem maturidade.
Confrontar
a religião em nome da aceitação da homoafetividade é uma estratégia derrotada
de antemão.Stálin foi o maior repressor
das igrejas ortodoxas.Ao ser invadida a URSS pela Alemanha nazista ele teve que
pedir ajuda à religião para unir o país.Não é verdade que o povo lutou pelos
comunistas,mas pelo seu país.Ao confrontar as igrejas,o movimento LGBT
desconhece a história,que provou que tal atitude só levará a mais repressão homofóbica.A
estratégia LGBT tem que ser
outra(falarei em outro artigo).
Defender
a legalização do aborto é uma necessidade para que o estado controle o
problema(embora tudo indique que ele não seja capaz),mas fazer disto uma
finalidade não.O problema da concepção é da mulher e do homem(de bom
caráter).Não é uma decisão só da mulher.
Que
dizer ,vamos devagar um pouco.É hora da esquerda fazer uma reflexão sobre si
mesma e tomar o remédio amargo de uma revisão verdadeira.
Eu
fiquei de luto por causa da morte de Marielle.Eu a vi alguns anos atrás quando
fui pedir ajuda à comissão de direitos humanos da Câmara de Vereadores,mas as
informações são tantas e tão truncadas(incompletas)que eu já não sei mais quem
é ela.Tem relação com traficantes(como é comum)?Ela comunga destes erros da
esquerda?É triste,mas a política e a emoção têm que ser bem equilibradas na
análise disto tudo.
É
fundamental que a direção da intervenção atue o mais rapidamente possível e
evite que um eventual vazio provocado por ela facilite a agitação e a
confrontação,desejados ardentemente pela direita.
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