segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

O Carnaval e Crivella II



Mas um problema aparece em toda esta diatribe entre a sociedade civil e a religião.É que muita gente que votou em Crivella não esperava que ele agisse assim.Muitos poderiam dizer que ele tinha ampla consciência do seu papel institucional,que impõe respeito,depois de ganha a eleição,a todas as correntes de pensamento,algo muito próprio do estado laico.
Mas na minha opinião o que motivou esta certeza de quem votou nele sem esperar esta rejeição do carnaval,festa profana,foi o paradigma comercial de massa.Ele não atacaria o carnaval porque integra um tipo de religião denominada “ teologia da prosperidade”,cujos objetivos são os mesmos de toda a atividade social do carioca:a questão cultural propriamente dita tem o seu lugar,na medida em que reúne a massa,que produz dinheiro,oferece oportunidade de emprego(dinheiro de novo)para pessoas que vivem o ano todo disto.Quer dizer, a cultura serve ao propósito de viabilizar as pessoas nas suas diversas atuações:a escola de samba ganha dinheiro,os “ famosos” se promovem (ganham dinheiro)e assim sucessivamente,as televisões,os jornais ,etc.etc.
O que fez Crivella(ou está tentando)foi operar uma (suposta)ruptura neste esquema.A percepção,que eu entendo ser a do povo,esta que eu proponho,é articulada com uma confrontação política e mercadológica que visa a substituir um esquema de prosperidade por outro.
E isto é político porque já há noticias de escolas de samba,que procuram seguir os ditames religiosos e fazer desfiles sem mulheres desnudas e homens idem.Há muito tempo gospels em forma de samba vêm sendo compostos nas igrejas.
Tudo isto indica os sinais de que as crescentes igrejas evangélicas querem fazer uma verdadeira reforma protestante no Brasil,com a sua natural e conhecida conexão com o mercado  capitalista.
É o pior dos cenários:o Brasil ,metrópole tropical de liberdade sexual e cultural,juntar num projeto de nação,mercado,puritanismo e política teocrática.
O que os setores da sociedade civil devem notar,com urgência, é que a cultura é a base da atividade mercadológica capitalista,não o contrário.A cultura e a liberdade de costumes não são derivativos do mercado capitalista,mas o seu elemento diretivo.Se a sociedade civil entender a questão só como economia,como emprego,a religião vai ser mais forte em cooptar a sociedade,com o espantalho de unir à festa os valores tidos por ela,como indecentes ou viabilizadores de vícios,como aconteceu com o fim dos cassinos.

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