sábado, 16 de dezembro de 2017

Ponto para o conservadorismo



A possibilidade legal de ensino religioso nas escolas vai de encontro ao que eu tenho dito freqüentemente sobre a situação do Brasil hoje,cada vez mais refém do conservadorismo e das  características do atraso.
Nós somos um povo que não só é objetivamente atrasado,com milhões de pessoas no subdesenvolvimento,mas também mentalmente arcaico,legitimando esta pobreza como algo próprio da grandeza.
Ficou mais do que provado ao longo da história que  a laicização do estado e da sociedade são condições culturais e políticas para o progresso material.A crença é legítima(abandonei de há muito a idéia marxista que diz o contrário,separando a crença do seu uso pela política),mas a  sua manipulação não.
Num país em que eleitoralmente o pensamento religioso tem mais influência do que as questões próprias da política,como o bem-estar do povo,ensinar religião nas escolas significa aprofundar esta manipulação,na medida em que a sua influência se tornará mais forte,ainda que indiretamente.
A religião tem uma função legítima enquanto manancial de valores,que serve inclusive a quem não é religioso,mas ela não pode e não tem condições de resolver os problemas sociais propriamente.
De modo geral toda religião se funda na compaixão e na piedade que tornam o mundo melhor,mas não suficientemente protegido dos sofrimentos que afligem as pessoas,notadamente as menos favorecidas e que é função do estado prover e resolver em definitivo,dentro da perspectiva social que eu entendo ser a base de toda a governança daqui para a frente,com ou sem marxismo.
A mediação religiosa dever ser privada e íntima como preconizou Engels na Comuna de Paris em 1871.Não há como impedir que o eleitor-cidadão use aquilo que aprende na sua religião de escolha na hora do voto,mas é preciso que ele entenda que os objetivos da política são diferentes daqueles que o seu orientador espiritual aconselha.
Em grande parte a aceitação da sua condição de pobreza faz do cidadão alguém que  busque na religião um apoio (material inclusive),mas este acaba sendo  uma justificação da inércia do estado,da política e dos políticos,reproduzindo um situação de resignação que atrasa  o país ,já que temos tarefas de  crescimento,como país industrial que somos.
A abulia diante da pobreza que se reproduz por uma humildade abstrata,humildade do despojamento,tira do cidadão a ambição de progredir e facilita o trabalho do mau político que não se importa mais com esta pessoa despojada,que está feliz com esta condição( o que não é verdade).
Então a religião não pode interferir no estado e o estado na religião.Mas o que se vê é o contrário.

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