Uma sinfonia de horrores(e desinformação)
Este
debate em torno destes livros sobre “o politicamente incorreto” é a medida de
como chegamos a um estado de absoluta penúria intelectual no Brasil,em todos os
níveis,inclusive universitário.O intelectual acadêmico ,que só olha para a sua
disciplina comete verdadeiros desatinos.Dir-se-á que isto não é casual,mas
isto,se for verdade,só acrescenta mais um horror a este quadro terrível que
estamos vivendo.
Eu
prefiro encarar otimìsticamente tudo o que acontece no Brasil de hoje e já
defini nosso período atual como de
crescimento e amadurecimento(entre dores)de nossa democracia.Este é o nosso
desafio para o futuro.
O
politicamente correto é uma invenção da direita no final do século passado
,para aproveitar a débâcle(que continua)da esquerda pós-muro.Uma parte da
esquerda ,acertadamente,procurou reconhecer os seus erros e defender,agora
sim,uma visão democrática do processo de superação das imensas mazelas sociais
de nosso mundo.
Como
reação a direita inquinou este comportamento de vazio,uma tentativa de esconder
estes erros do passado e retornar,o que para alguns setores radicais,vale como
verdade.Ou seja:a guerra-fria,o século XX(chamado erradamente de breve por
Hobsbawn)continuou e continua.
O
processo de compensação das vítimas da ditadura amplificou este debate ,que
viceja dentro do contexto de nossa frágil democracia,porque os extremismos
resolveram usar o problema como plataforma política ,deixando de lado a nação,como
tenho denunciado várias vezes aqui nestes textos.
É
dentro deste contexto que estas discussões baseadas em meias-verdades ,em
inverdades históricas e falta de fundamento,devem ser analisadas,até com certa
revolta(eu me sinto assim),dada a desfaçatez,diante do povo,com que elas são
feitas.
Senão
vejamos,o Sr. Marco Antonio Villa,que é historiador,e só historiador
especializado,afirma ,repetindo a
ditadura militar,que a responsabilidade do seu recrudescimento foi culpa
do terrorismo de esquerda.
Para
quem conhece História do Brasil de fato e não é mal intencionado ,sabe que o
primeiro movimento de ataque ao governo militar foi feito pela AP,de Betinho,
no aeroporto de Guararapes,para atingir o candidato já vencedor,do regime
militar,General Costa e Silva.Este atentado matou inocentes é verdade,mas a
causa da sua ocorrência foi a inevitabilidade que a candidatura deste militar
criou,consagrando o princípio de Benjamin Constant( o constitucionalista
francês)de “ usurpação” aplicado a Napoleão.
Na
época em que Costa e Silva se tornou candidato esta discussão teórico-política
foi lançada e teve como um dos seus maiores divulgadores e debatedores o professor
marxista Roland Corbisier,que comparou a situação em 66 com o advento de Napoleão
Bonaparte.Aliás o constitucionalista francês elaborou esta categoria da “
ciência “ política,com o exemplo do corso em vista.Até ao momento em que
Napoleão era o protetor republicano do povo francês,o primeiro cônsul e depois cônsul
vitalício,tudo estava de acordo com a soberania popular,mas quando ele se
proclamou Imperador,usurpou os direitos de representação do povo,se impondo a
ele.
Os
militares no Brasil,semelhantemente,usaram o “ perigo comunista” que já não era
muito no tempo do governo Jango,e para favorecer grupos econômicos e políticos que
queriam se locupletar,para usurpar a soberania do povo.E isto começou na
prorrogação do mandato do Marechal Castelo Branco.
É
inacreditável que um historiador ignore isto,mas duas causas existem para esta
atitude anti-profissional:a especialização,que desobriga o profissional
acadêmico de ser interdisciplinar,com são as “ ciências” humanas ,e o
comprometimento com determinados interesses que patrocinam tais intelectuais.
Paulo
Francis vivia fazendo afirmações do tipo feito por Marco Antonio Villa:só houve
ditadura de 1968 até 1978.Eu lembro de um prócer da ditadura(foi quem a denominou como tal da reunião do dia 12 de dezembro
de 68)Jarbas Passarinho,dizendo ao Senador Marcos Freire ,que não havia
ditadura.Citando Maurice Duverger,Passarinho conceitua que a ditadura,em última
instância, é o impedimento de que outros possam chegar ao poder.
Foi
só a partir de 68 que isto aconteceu?A prorrogação do mandato de Castelo Branco
não foi uma quebra do compromisso transicional de seu governo,conforme o
discurso de posse?
A
biografia do Senador Luis Viana Filho sobre Castelo indica claramente que o
primeiro presidente do ciclo militar queria que os militares não
prosseguissem.A continuidade,com Costa e Silva,não é,no mínimo,deslealdade.Com
Castelo e com o povo?Não é continuidade com a prorrogação e barreira a que os
outros cheguem ao poder?Não é ditadura também?As incertezas da redemocratização
não caracterizam o período de Figueiredo ainda como pertencente à ditadura?
O
desrespeito de Villa ao dizer isto,na relação informativa que todo o acadêmico
e professor deve ter em relação ao povo,não fica aqui patente?
De
outro lado Luiz Felipe Pondé.Ele diz que é a esquerda é um grande sucesso de
marketing.Não,a esquerda existe,há mais de duzentos anos,porque ,mesmo sendo
ruim(como o é hoje no Brasil)existe miséria,gente na rua,fome.É por isso que
,apesar de tudo,ela sempre se faz presente e se fará.
Esta
direita “ nova” que aí está repete os mesmos truques do passado,relativizando o
problema da miséria.Aqui na ditadura militar,apesar de tudo,todos foram
beneficiados pelo “ milagre” econômico,quando já está estabelecido que a
favelização do Brasil,das grandes cidades,com o fenômeno do esquadrão da
morte,se intensificou nesta época.Será que é coincidência que um delegado
torturador como Fleury atuou junto aos órgãos militares?
O
discurso sobre o mal necessário da (hiper-)inflação era comum naquele tempo,mas
quem era pobre sofreu horrores com ela.Uma intenção boboca e irresponsável de
dourar uma pílula já conhecida de outros carnavais.
Mas
a esquerda,culpada,pelos seus erros,do crescimento da direita,não fica atrás
não.Ah,eu sou branco,de classe média,privilegiado,logo eu me beneficiei,o povo
não.Acaso setores da classe média também não foram prejudicados?A
esquerda,representada,muitas vezes,por Luis Eduardo Greenhalg,acusa a classe
média de não ver os pobres nos semáforos,mas quem pagou mais impostos no Brasil,desde
a ditadura?Para onde foi este dinheiro,que poderia muito bem tirar as crianças
da rua,acabar com a fome?Foi para o bolso dos capitalistas,diria um radical de
esquerda.Mas não foi também,no governo Lula,para a esquerda?
A
classe média paga impostos e o dinheiro vai na corrupção e depois ela é acusada
de não se importar com os pobres,num truque de política de classe,típica da
esquerda anacrônica.
E
tem também os marinheiros de primeira viagem, que usam a política para ganhar
importância em seu trabalho,não raro combalido,como Lobão.
Há
muitos anos(década de 90)Lobão foi entrevistado por um Jornal de ex-amigos meus
e começou a propalar as idéias do marxismo ortodoxo.Em certa ocasião no
programa de Marcia Peltier ele repetiu o conceito de Marx de que a religião aliena o homem num mundo sempiterno,coisa que
já havia sido ultrapassada pelas concepções de Gramsci.
Não
conseguindo mais vender discos, culpa a geração de Caetano,Gil e Chico Buarque.Se
é certo que há uma contradição violenta entre defender a democracia aqui e ser
castrista;se é certo que os citados artistas ocupam o mercado fonográfico,porque
é mais seguro vendê-los do que os novos;se é certo que é preciso dar chance a
estes novos,usar a questão política como
estratégia tem idêntico significado de confundir o povo que eu atribuí às
afirmações Villa e Pondé.
Caro
leitor,cidadão brasileiro como eu,a esquerda existe desde as revoluções
inglesas do século XVII e ela não se identifica somente com o marxismo.É
conveniente ,já que a tradição marxista cometeu erros e crimes,jogar tudo sobre
ela.O marxismo e as esquerdas foram uníssonas em denunciar o trabalho escravo
infantil.Assim como a nova direita mente ao dizer que o milagre brasileiro
beneficiou o pobre,não caiam de novo nesta esparrela de pensar que o
capitalismo brasileiro acabou com esta forma de exploração,porque ainda está
aí.E não é só no Brasil.Não é uma questão de marketing a presença de uma
esquerda,mas ela acaba sendo necessária para expressar o desespero real de
pessoas exploradas e injustiçadas ,que os intelectuais citados,frios e
perversos,não são capazes de notar(ou não querem,o que dá no mesmo).
Nós
estamos entregues ao passado,a dois extremismos ,mas real é o nosso país,que
nos cabe transformar.Não é Bolsonaro ou Lula,mas o Brasil.Não é a ditadura do
proletariado ou a ditadura da burguesia,mas como fazer a democracia solucionar
de vez a questão social,que prossegue.
A
origem da ditadura do proletariado não é só o pensamento de Marx,mas outros
discursos,que vieram inclusive da Igreja católica,como os de Lamennais e Lacordaire,que acusavam a
burguesia e os governos de serem indiferentes ao sofrimento da maioria.Se a
burguesia não negocia ,não há outro modo senão se impor.
No
Brasil,o “ raciocínio” básico do radical é este:culpa um setor do país e faz uma ditadura,como era o caso dos
guerrilheiros brasileiros.E eles obteriam apoio nas massas excluídas ,sem
dúvida.Algo legítimo e até inevitável para quem está na rua faminto.
A
classe média(junto com a burguesia)se sente intimidada e inevitavelmente pede
proteção às forças armadas,como direito de legítima defesa.Será que não há
alternativa?
Por
isso eu me considero pesquisador independente,interdisciplinar,estudioso e reivindico
legitimidade para minha atividade solitária de cidadão,que quer encontrar os
seus meios de protestar e oferecer alternativas.Eu sou o cidadão,intocável,que
quer solução definitiva para os problemas.Eu sou o cidadão,como a maioria
esmagadora ,que vota nos políticos para
eles deixaram as coisas deste jeito.
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