Surgiu nos últimos anos uma “ nova” direita que
vive batendo no marxismo para justificar a retorno a 64.
Tem um representante deles aí(não vou citar o
nome dele não porque ele só me joga indiretas)que só é o que é porque fez
escândalo com o marxismo e só tem independência intelectual,por fora da
academia,por causa do marxismo,que é um pensamento crítico.
O Brasil está cheio de pessoas que não sabem
trabalhar.Ora fazem escândalo com a vida pessoal de notórios artistas,ora se
escudam em fenômenos graves,como 64 ,para adquirir uma notoriedade que não
teriam se eles não houvessem.
E este mesmo “ filósofo” de Youtube vive cartando
independência ,mas é avalizado por grupos integristas que lhe dão
sustentação.Cometeu crimes estalinistas na sua vida toda,sente-se culpado e aí
inventa um modelo oposto de ditadura para esconder as suas responsabilidades.
Os outros representantes são a mesma coisa.
Mas o que mais me irritou foi um debate que eu
vi no Youtube sobre Che Guevara,” mediado” pelo anticomunista William Waack,em
que não se disse coisa com coisa.
Não é nada demais ter uma postura crítica em
relação a qualquer coisa,muito menos sobre Che Guevara,mas é preciso conhecer o
marxismo para poder falar sobre algumas delas.
Depois que deixei de ser comunista eu aprendi a
ler e a conhecer os meus inimigos ou “ diferentes”,antes de falar.
A perspectiva dos intelectuais de hoje é só dar
vazão a modelos de interpretação que não são eles que constróem e geralmente
não abordam o próprio tema,mas se lhes aplicam,como se esta fosse um atitude
ética.
Neste debate um “famoso” historiador afirma que
a aventura de Che na África foi “ engraçada”,porque ele achava que as relações
sócio-econômicas do Congo eram desenvolvidas,em termos capitalísticos.
Em sã consciência ,ainda que sendo inimigo da
figura,é possível fazer uma afirmação deste tipo,irresponsável?Será que o Che
não sabia disto?
O que o Che tentou fazer foi a tri-lateral dos
países pobres,uma forma de forçar o imperialismo a gastar com guerras,pelo
mundo todo,uma estratégia que é base da atividade do terror nos dias de hoje e
que segundo uma reportagem da revista Carta Capital,há muitos anos,sobre a
dívida pública dos Estados Unidos,foi a base da atividade de Osama Bin
Laden,que a provocou.
Por mais que se critique o Che é preciso se
atualizar nos conhecimentos que se têm sobre ele.Quem se atualiza não são os
doutores das universidades porque estes estão mais preocupados com o poder do
que com o conhecimento,que se modifica e acrescenta.
Por isto,não raro obras feitas por jornalistas
são melhores do que os papers universitários.O livro do jornalista Lira Neto
sobre os bastidores da escolha do
Presidente Castelo Branco em 64 é mais importante e elucidativo do que quilos
de obras acadêmicas.
No caso do Che,o livro recente de Jon Lee
Anderson traz informações muito importantes sobre a atividade do líder
argentino:que ele acusou a URSS e a China de fazerem o jogo do imperialismo e de serem,afinal,países
imperialistas;que os soviéticos,por isto,mandaram-no sair(não foi por causa da
possibilidade de ser assassinado([como diz o Waack]{isto sempre pode
acontecer});que o Che afirmou que continuando a atuar assim o socialismo,a longo
prazo,seria liquidado(uma consciência que os comunistas (quase)todos já tinham
depois de 68).
Eu aprendi que ler é bom,mas ver tudo o que sai
sobre os fatos e fenômenos da vida é importante.Historiador brasileiro parece
não ver documentários,por preconceito contra jornalismo e televisão.
Há um documentário muito recente sobre as
relações de Fidel e Che após a exigência dos russos.Che sabia que ,segundo o
marxismo,não há revolução comunista nacional e a sua idéia de espraiar a revolução era para cumprir este fundamento.
Che alegava que a revolução cubana ia entrar
para o mesmo caminho do culto à personalidade se ficasse isolada,se não levasse
esta verdade em consideração.
Historicamente todo mundo sabe(menos os
acadêmicos que falam sobre marxismo)que os escritos de juventude de Marx e
Engels que tratam do problema, só foram publicados na URSS em 32 ,por Riázanov.
Che não era trotskista,ele era marxista.A idéia
de uma revolução universal está em Marx e é uma conseqüência da concepção
moderna,iluminista ,do comunismo.Trostki sabia deste último fato e publicou
livros sobre isto,sem conhecer os textos marxianos de juventude,mas sabia que
era assim.
Quando Che foi para o Congo,tinha esta
consciência.Não foi engraçado nada.A articulação com a África Central dependia
dos esforços de construção da tri-lateral,que estava sendo feita pela Argélia e
principalmente o Marrocos,através de Ahmed Ben Barka.
Quando este último foi preso,torturado e morto
pelo general Oufkir,o esquema gorou e a importância do Congo cresceu na razão
inversa da sua impossibilidade.
Nos diários do Congo de Guevara fica claro que
sem este suporte o líder da Independência Congolesa,Laurent Kabila não aceitou
a visão internacionalista do Che,se
recusando a fazer do seu problema um problema mundial.
Che voltou para Cuba ,fez a viagem
internacional em que acusou os países socialistas e planejou,mesmo com a derrota africana,a tri-lateral,a partir da Bolívia.
Primeiro discutiu muito com Fidel o culto à
personalidade,o isolamento da revolução cubana,as perspectivas futuras do
socialismo.
Antes de chegar à Bolívia,foi para a
Techoeslováquia, onde escreveu alguns textos sobre estes problemas,afirmando o
liquidacionismo do socialismo,por causa do chauvinismo de grande potência,notadamente
da URSS.
Desde o inicio a revolução cubana alegou
diferenças em relação ao socialismo real,mas dependeu dele e Che ,ao se
sacrificar(é uma discussão se valeu a pena ou não)visava exatamente seguir os
paradigmas básicos do Marxismo.
Gramsci e Guevara permanecem por razões diferentes,mas
Che é um mito porque ele defendeu aquilo que todo mundo sabe:resolver o
problema social hoje é resolver no âmbito mundial.É isto que o torna ainda um
mito.
É lógico que há problemas:o fato dos cubanos o
colocarem no tribunal que fuzilou opositores do regime,foi uma atitude
oportunista pois que não queriam se
indispor com os seus cidadãos.Isto prova que a aderência ao socialismo não era
tanta assim.É lógico que isto pôs a vida do Che em risco,mas há mais coisas em
torno de tudo isto,não o que é conveniente para esta direita ruim que só cresce
por causa da pobreza igual da esquerda.
Eu não gosto de citar nomes,mas no caso aqui
vale como fecho cristalizador destes argumentos:na época do impeachment de
Dilma Fernando Morais acusou Marco Antonio Villa de ser intelectualmente
pobre,mas numa entrevista no Senado,Fernando disse que era chavista porque ele
ia distribuir dentaduras para os venezuelanos.
Quer dizer, as pessoas que estudam,que se
dedicam,que são profissionais, estão entre estas duas pobrezas e a realidade
vai se complicando.
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