sexta-feira, 5 de maio de 2017

As classes médias



A esquerda brasileira,uma das piores do mundo ,por falta de estudo,de análise constante da realidade,sempre repete o “ misticismo da classe operária”.Como Marx disse no Capital que só as classes produtivas farão o comunismo e estas são os proletários,o dogma persiste nestas cabecinhas que mais parecem bigornas.
Os meus pressupostos metodológicos,que eu penso estarem consentâneos com a concepção do materialismo histórico (resignificado[Habermas])já foram expostos em outros artigos.”Revisionistas somos todos” dizia  Carlos Nelson Coutinho,que eu não sei se estas vanguardas conhecem.É da obrigação dos militantes reconhecer as mudanças do real social,que são cada vez mais rápidas.
No passado diz-se que as revoluções clássicas foram feitas pelas classes médias porque na época da hegemonia da aristocracia, a burguesia era classe média.Ela tomou o poder e tornou-se classe dominante.
As classes médias modernas resultam não da luta dos operários,mas do próprio desenvolvimento das nações capitalistas,com o crescimento dos serviços.A própria onda industrial impõe novas funções,como a dos executivos.A sociedade capitalista se complexificou naturalmente.Não foi um processo planejado,mas inevitável.
Há momentos em que as classes dominantes capitalistas usaram de artificios para desviar a classe operária da luta pela revolução.As reformas de Haussman em Paris(imitadas no Brasil por Pereira Passos)visavam remodelar as cidades e impedir as barricadas.
O surto de invenções industriais,com as famosas feiras, procurava incluir o operário,mas o que o cooptou definitivamente foi o imperialismo,que nehuma classe operária repudiou(isto nenhum esquerdista brasileiro sabe,porque não leu Hobsbawn[Lenin acusava a “ aristocracia operária” européia de oprimir os outros povos]).
Hoje o que chamamos de “ classe média” é um estrato de trabalhadores.É lógico que este grupo,que esta nova classe oscila da extrema direita para a extrema esquerda,mas como eu disse acima isto acontece também também com os operários,que não se definem só pela sua condição objetiva,como disse erradamente Luckács,mas também por valores que,às vezes,os põem na mesma posição da alta burguesia.
O PT é o caso mais recente:ataca a classe média,mas faz aliança com a alta burguesia brasileira,com os bancos.
A classe média fez aliança com o fascismo,mas é o sustentáculo das democracias altamente prósperas e jurídicas dos países nórdicos.
Aqui no Brasil setores do PSD mineiro e paulista,representados pelas figuras respectivamente de Tancredo Neves e Ulysses Guimarães,caminhavam para um tipo de classe média moderno,mas infelizmente os governos de JK e depois a ditadura militar ,cooptaram a classe média para projetos autoritários de modernização conservadora,mas isto pode mudar.
E não é verdade que a classe média brasileira seja fascista.Não há prova sociológica disso não.Alguns setores na zona sul do Rio de Janeiro(descendentes dos traficantes de escravos no século XIX)e do sul do Brasil(francamente neonazistas)o são,mas a maior parte do povo brasileiro é conservador ,espiritualista e cristão como está em Gilberto Freyre(que eu não sei se a esquerda leu).
È preciso estudar,se informar,inclusive com outros autores,como Pareto,que lançou uma idéia sobre a modernidade social que a esquerda devia entender:as classes se movimentam na sociedade,tanto intelectualmente,quanto materialmente,como num círculo,em que há troca de posições.
Está certo que este conceito serviu ao fascismo para colar as classes médias e até os operários nas calsses altas,fundindo os interesses.Contudo o mesmo conceito pode (nos)ajudar no sentido  oposto e mais objetivamente verdadeiro de unir a classe média de trabalhadores com os operários.
O que mais me chocou e ainda me choca,eu que participo de passeatas, é como o trabalhador,mesmo organizado, ataca o seu igual.Na época do rolezinho o pessoal das comunidades criticava as atendentes nas lojas de roupa de marca,culpando-as pelos valores pedidos por calças e camisas,como se fossem elas as donas da empresa.
Adianta criticar os repórteres da rede Globo?São eles que fazem  os conceitos emitidos pela televisão?
Maxim Gorki escreveu um livro “ Mãe”,filmado pelo grande cineasta soviético Pudovkin(vão assistir ,meus companheiros,por favor)no qual o judiciário é ridicularizado ao ponto de sua desnecessidade(Lenin dizia:” advogados,nem os do partido”).Acaso a sociedade moderna pode ficar sem este grupo de trabalhadores?
Isto me lembra o primeiro filme de Pier Paolo Pasolini ,” Accatone”,em que as pessoas pobres brigam entre si,por instigação dos mais ricos.
Culpo o PT por esta divisão que enfraquece o nosso país.

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