A esquerda brasileira,uma das piores do mundo ,por
falta de estudo,de análise constante da realidade,sempre repete o “ misticismo
da classe operária”.Como Marx disse no Capital que só as classes produtivas
farão o comunismo e estas são os proletários,o dogma persiste nestas cabecinhas
que mais parecem bigornas.
Os meus pressupostos metodológicos,que eu penso
estarem consentâneos com a concepção do materialismo histórico
(resignificado[Habermas])já foram expostos em outros artigos.”Revisionistas
somos todos” dizia Carlos Nelson
Coutinho,que eu não sei se estas vanguardas conhecem.É da obrigação dos
militantes reconhecer as mudanças do real social,que são cada vez mais rápidas.
No passado diz-se que as revoluções clássicas
foram feitas pelas classes médias porque na época da hegemonia da aristocracia,
a burguesia era classe média.Ela tomou o poder e tornou-se classe dominante.
As classes médias modernas resultam não da luta
dos operários,mas do próprio desenvolvimento das nações capitalistas,com o crescimento
dos serviços.A própria onda industrial impõe novas funções,como a dos
executivos.A sociedade capitalista se complexificou naturalmente.Não foi um
processo planejado,mas inevitável.
Há momentos em que as classes dominantes
capitalistas usaram de artificios para desviar a classe operária da luta pela
revolução.As reformas de Haussman em Paris(imitadas no Brasil por Pereira Passos)visavam
remodelar as cidades e impedir as barricadas.
O surto de invenções industriais,com as famosas
feiras, procurava incluir o operário,mas o que o cooptou definitivamente foi o
imperialismo,que nehuma classe operária repudiou(isto nenhum esquerdista
brasileiro sabe,porque não leu Hobsbawn[Lenin acusava a “ aristocracia operária”
européia de oprimir os outros povos]).
Hoje o que chamamos de “ classe média” é um
estrato de trabalhadores.É lógico que este grupo,que esta nova classe oscila da
extrema direita para a extrema esquerda,mas como eu disse acima isto acontece
também também com os operários,que não se definem só pela sua condição objetiva,como
disse erradamente Luckács,mas também por valores que,às vezes,os põem na mesma
posição da alta burguesia.
O PT é o caso mais recente:ataca a classe
média,mas faz aliança com a alta burguesia brasileira,com os bancos.
A classe média fez aliança com o fascismo,mas é o
sustentáculo das democracias altamente prósperas e jurídicas dos países
nórdicos.
Aqui no Brasil setores do PSD mineiro e paulista,representados
pelas figuras respectivamente de Tancredo Neves e Ulysses Guimarães,caminhavam
para um tipo de classe média moderno,mas infelizmente os governos de JK e
depois a ditadura militar ,cooptaram a classe média para projetos autoritários
de modernização conservadora,mas isto pode mudar.
E não é verdade que a classe média brasileira seja
fascista.Não há prova sociológica disso não.Alguns setores na zona sul do Rio
de Janeiro(descendentes dos traficantes de escravos no século XIX)e do sul do
Brasil(francamente neonazistas)o são,mas a maior parte do povo brasileiro é
conservador ,espiritualista e cristão como está em Gilberto Freyre(que eu não
sei se a esquerda leu).
È preciso estudar,se informar,inclusive com outros
autores,como Pareto,que lançou uma idéia sobre a modernidade social que a
esquerda devia entender:as classes se movimentam na sociedade,tanto
intelectualmente,quanto materialmente,como num círculo,em que há troca de
posições.
Está certo que este conceito serviu ao fascismo
para colar as classes médias e até os operários nas calsses altas,fundindo os
interesses.Contudo o mesmo conceito pode (nos)ajudar no sentido oposto e mais objetivamente verdadeiro de
unir a classe média de trabalhadores com os operários.
O que mais me chocou e ainda me choca,eu que
participo de passeatas, é como o trabalhador,mesmo organizado, ataca o seu
igual.Na época do rolezinho o pessoal das comunidades criticava as atendentes
nas lojas de roupa de marca,culpando-as pelos valores pedidos por calças e
camisas,como se fossem elas as donas da empresa.
Adianta criticar os repórteres da rede Globo?São
eles que fazem os conceitos emitidos
pela televisão?
Maxim Gorki escreveu um livro “ Mãe”,filmado pelo
grande cineasta soviético Pudovkin(vão assistir ,meus companheiros,por favor)no
qual o judiciário é ridicularizado ao ponto de sua desnecessidade(Lenin dizia:”
advogados,nem os do partido”).Acaso a sociedade moderna pode ficar sem este
grupo de trabalhadores?
Isto me lembra o primeiro filme de Pier Paolo
Pasolini ,” Accatone”,em que as pessoas pobres brigam entre si,por instigação
dos mais ricos.
Culpo o PT por esta divisão que enfraquece o nosso
país.
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