Eu me lembro ,logo depois do fim da ditadura, como certos
marxistas tradicionais alegaram ter o
direito de compor um gabinete com Paulo Maluf no governo de São Paulo.Já na
época admitia-se que as concepções sobre o poder tinham mudado:é lógico que até
Gramsci o poder era visto como algo monolítico,inteiriço.Era assim que o
stalinismo via as coisas e quem pensasse em fracioná-lo estava contra todo o
processo real de mudança.
Hoje,numa época pós-Gramsci ,mas que absorve ainda muito do
seu pensamento sobre “ guerra de posições”,o poder é visto como algo fracionável,negociável
e não tem tanta importância a dicotomia direita e esquerda.
Contudo,mesmo neste novo quadro é preciso entender que as
relações de poder são formais e hierárquicas e que esta dicotomia,embora enfraquecida,
historicamente ainda existe.
Alguém de esquerda que
participa de um governo conservador de direita precisa ter cuidado para
não jogar água ,ainda que indiretamente,nos objetivos mais retrógrados.Precisa
ter cuidado para não legitimar algo que é francamente contrário ao pensamento
geral da esquerda.
Este é o caso de Cid Benjamin no governo Crivella.Jogada
muito inteligente do Prefeito,mas perigosa para quem é de esquerda e que deve
exigir desta uma clareza muito grande quanto ao papel a exercer.
Porque ninguém vai imaginar que Benjamin vai se colocar numa
perspectiva contrária à liberdade LGBT,que é um dos fundamentos do pensamento
de Crivella.Como conciliar estas duas coisas?Conversando se entende,mas é preciso
conversar,definir e expor diante do público e diante do eleitorado consciente
do Rio de Janeiro e do Brasil os limites.
Uma pura e simples afirmação pragmática não vale.Os
fundamentos de cada um devem ser respeitados.
Quer dizer, Crivella chamou Cid Benjamin para realizar uma
atividade de esquerda que ele admite e não pode exigir que Benjamin se violente.Isto
tem que ficar claro.Nem muito menos o sucesso certo da atividade de Cid
Benjamin pode legitimar o conservadorismo de Crivella.
O eleitor depois deste governo deve distinguir o que é uma política
de esquerda e uma de direita,senão nós vamos cair no tempo de Maluf que foi
mais beneficiado pelos comunistas que atuaram no seu governo,do que beneficiou
uma política conseqüente de esquerda .
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