sábado, 10 de dezembro de 2016

Ferreira Gullar II



Eu queria fazer algumas considerações  sobre o artigo de Mario Sergio Conti a respeito da morte de Ferreira Gullar,na Folha de São Paulo da semana passada.Um artigo grosseiro e que acabou juntando o poeta com a tragédia da Chapecoense.
Nele o jornalista  ridiculariza as manifestações de pesar sobre as duas efemérides,afirmando no final que tais atitudes de luto e compaixão individuais e  coletivas existem para que nos sintamos melhores ,não havendo por debaixo, sentimentos verdadeiros.
Aqueles que leram “ Du Contrat Social” de Jean Jacques Rousseau ,sabem que para este teórico a soberania do povo só se exerce,não se transmite.Esta verdade mostrou desde então que todo homem individualmente considerado ou resolve os problemas do “corpo político” ou perde esta condição pela representação.Que todo cidadão, por mais bem intencionado,  não tem meios para sozinho solucionar os graves problemas de sociedades complexas como as em que vivemos.Isto ficou claro cada vez mais,contra e ao mesmo tempo a favor de Rousseau,porque de um lado a história demonstrou ser impossível por na prática sua concepção de soberania e por outro, os descaminhos da representação provam que ele estava certo.Vivemos nesta contradição.
Mesmo assim é preferível viver numa sociedade que se preocupa com estas tragédias do que em outra ,cruel e sanguinária.Além do mais não é verdade que o individuo não se esforce eventualmente para dar um impulso a estas soluções ,pois muita gente pratica atos de bondade em relação às pessoas que sofrem tragédias pequenas e que não saem no jornal.
A pessoa que fecha o vidro do carro para não ver o menino vendendo laranja,pagou impostos vultosos que permitem ao estado em geral tirar esta criança da rua,mas em vez disso ,o capital vai para os iates e para as jóias de criminosos de colarinho branco.Não há invisibilidade da miséria coisa nenhuma.Todo mundo se apavora.Como dizia Josué de Castro:” No Brasil aquele que come não dorme com medo daquele que não come”.
E de certa maneira estas abnegações individuais  e coletivas podem ser vistas como um começo de mudança,um permanente estado de busca da utopia.
Então quando manifestamos homenagens a pessoas conhecidas que morreram, estamos nos ligando a este desejo de uma cotidianidade melhor.E não se venha dizer que o volume de pessoas que foram ao estádios,o fizeram  por um propósito cínico,gastando dinheiro da entrada para não obter nenhum tipo de retorno.
Quem tem ficado cada vez mais cínico é o jornalismo brasileiro.

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