sábado, 27 de fevereiro de 2016

PT,Partido Hibrido



Revendo o documentário “ Travessia” ,sobre o périplo de Tancredo Neves rumo à redemocratização,lembrei da posição abstrusa do PT em se negar a ir ao Colégio eleitoral.Á parte as insinuações daquele tempo e posteriormente, de que havia um dedo da ditadura nesta atitude,a decisão do Partido é um marco para a compreensão de sua identidade ideológica que continua a produzir  frutos até hoje,se admitirmos que ele possui inúmeros vícios de origem.
Já me referi em outro artigo a um deles:o aparelhismo,que está demonstrado aí à farta e que se coaduna com estas visões de “ bolivarianismo”,tomada do estado,para através dele mudar o país.
Mas o que me traz aqui é outro vicio,ou antes,uma outra característica.
Muita gente que voltou do exílio,quero dize,gente da esquerda e principalmente comunista ,achava que o PT ia ser a base do novo comunismo ,porque ele se constituía de uma classe operária nova e altamente organizada.
No entanto o PT não é uma continuidade da luta dos trabalhadores e operários,pelo menos no sentido que esta esquerda do exílio achava:uma continuidade.Objetivamente classe operária não quer dizer subjetivamente engajada nas mesmas lutas do século XX,muito pelo contrário.Ela já expressava a crítica dos modelos do socialismo “ real” e refletia um novo interesse em relação ao seu papel político na realidade  brasileira quando a redemocratização viesse.
Quando me refiro a uma outra característica é  a este hibridismo,objetivo/subjetivo.Objetivamente uma classe operária modelar típica;subjetivamente um novo agrupamento social com outras perspectivas  doutrinárias.
Aparentemente,tudo isto é muito legítimo,mas isto encerra problemas que o PT possui em sua fundação e mantém até hoje.
Uma subjetividade supostamente moderna e com vocação social-democrática,mas objetivamente sofrendo uma pressão obreirista exclusivista típica dos antigos  partidos comunistas para os quais a classe operária é a única produtiva e detentora da verdade.
Desde os primórdios da atuação de Lula,como representante desta classe ,em eleições,isto se verifica,mas no inicio este hibridismo se revela claramente.O partido não se alia a ninguém.Nas eleições de 82 e  até a segunda tentativa de chegada à presidência o PT mantém esta postura de classe hegemônica,muito embora se perceba claramente algumas modificações,porque eu me lembro no debate com Collor em 89,Lula ter dito que o objetivo do PT era que todos tivessem nível de classe média.Supõe-se que a classe operária deveria chegar a este nível.
Neste período de 87-88 já se falava que o proletariado já não existia e que a denominação Partido dos Trabalhadores expressava a modernidade.
Contudo permanece esta dicotomia por falta realmente de uma compreensão do significado real destas mudanças teóricas,fazendo o partido sucumbir àquele exclusivismo,obreirismo,que não é mais do que um resquício da visão de classe social ,herdada do comunismo,que o PT nunca deixou de praticar até aos dias de hoje.
A resposta que o Partido dá aos reclamos da cidadania de classe média,quanto à carestia recende  a este passado,na medida em que a classe média,o objetivo social que Lula queria alcançar,é visto como uma reivindicação ilegítima de classes favorecidas,que aparentemente não têm motivo para reclamar.
Na época do “ rolezinho” nunca reclamei do direito das classes operárias ou outras menos favorecidas,de comprar no shopping,mas agora devo dizer que os discursos ouvidos naquela ocasião por parte destes setores,ridicularizando o modo de ser da classe média,me parece preconceito irresponsável de quem não está doutrinariamente atualizado e modernizado.
Por isso me preocupa muito a situação atual do Brasil,porque por culpa destas insuficiências  nós vemos um divisão que não interessa  a ninguém e isto pode  revelar que o PT pensa mais na classe do que no país,no internacionalismo,mais do que no Brasil.

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