Revendo o
documentário “ Travessia” ,sobre o périplo de Tancredo Neves rumo à
redemocratização,lembrei da posição abstrusa do PT em se negar a ir ao Colégio
eleitoral.Á parte as insinuações daquele tempo e posteriormente, de que havia
um dedo da ditadura nesta atitude,a decisão do Partido é um marco para a
compreensão de sua identidade ideológica que continua a produzir frutos até hoje,se admitirmos que ele possui
inúmeros vícios de origem.
Já me referi
em outro artigo a um deles:o aparelhismo,que está demonstrado aí à farta e que
se coaduna com estas visões de “ bolivarianismo”,tomada do estado,para através
dele mudar o país.
Mas o que me
traz aqui é outro vicio,ou antes,uma outra característica.
Muita gente
que voltou do exílio,quero dize,gente da esquerda e principalmente comunista ,achava
que o PT ia ser a base do novo comunismo ,porque ele se constituía de uma
classe operária nova e altamente organizada.
No entanto o
PT não é uma continuidade da luta dos trabalhadores e operários,pelo menos no sentido
que esta esquerda do exílio achava:uma continuidade.Objetivamente classe
operária não quer dizer subjetivamente engajada nas mesmas lutas do século
XX,muito pelo contrário.Ela já expressava a crítica dos modelos do socialismo “
real” e refletia um novo interesse em relação ao seu papel político na
realidade brasileira quando a
redemocratização viesse.
Quando me
refiro a uma outra característica é a
este hibridismo,objetivo/subjetivo.Objetivamente uma classe operária modelar
típica;subjetivamente um novo agrupamento social com outras perspectivas doutrinárias.
Aparentemente,tudo
isto é muito legítimo,mas isto encerra problemas que o PT possui em sua
fundação e mantém até hoje.
Uma
subjetividade supostamente moderna e com vocação social-democrática,mas
objetivamente sofrendo uma pressão obreirista exclusivista típica dos
antigos partidos comunistas para os quais
a classe operária é a única produtiva e detentora da verdade.
Desde os
primórdios da atuação de Lula,como representante desta classe ,em eleições,isto
se verifica,mas no inicio este hibridismo se revela claramente.O partido não se
alia a ninguém.Nas eleições de 82 e até
a segunda tentativa de chegada à presidência o PT mantém esta postura de classe
hegemônica,muito embora se perceba claramente algumas modificações,porque eu me
lembro no debate com Collor em 89,Lula ter dito que o objetivo do PT era que
todos tivessem nível de classe média.Supõe-se que a classe operária deveria
chegar a este nível.
Neste período
de 87-88 já se falava que o proletariado já não existia e que a denominação
Partido dos Trabalhadores expressava a modernidade.
Contudo
permanece esta dicotomia por falta realmente de uma compreensão do significado
real destas mudanças teóricas,fazendo o partido sucumbir àquele
exclusivismo,obreirismo,que não é mais do que um resquício da visão de classe
social ,herdada do comunismo,que o PT nunca deixou de praticar até aos dias de
hoje.
A resposta
que o Partido dá aos reclamos da cidadania de classe média,quanto à carestia
recende a este passado,na medida em que
a classe média,o objetivo social que Lula queria alcançar,é visto como uma reivindicação
ilegítima de classes favorecidas,que aparentemente não têm motivo para reclamar.
Na época do “
rolezinho” nunca reclamei do direito das classes operárias ou outras menos
favorecidas,de comprar no shopping,mas agora devo dizer que os discursos
ouvidos naquela ocasião por parte destes setores,ridicularizando o modo de ser
da classe média,me parece preconceito irresponsável de quem não está
doutrinariamente atualizado e modernizado.
Por isso me
preocupa muito a situação atual do Brasil,porque por culpa destas insuficiências
nós vemos um divisão que não interessa a ninguém e isto pode revelar que o PT pensa mais na classe do que
no país,no internacionalismo,mais do que no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário