domingo, 7 de fevereiro de 2016

O ardil 22 aplicado Islã II



Vendo um documentário  sobre as charges  feitas por um jornal Dinamarquês ,que geraram as primeiras reações do Islã contra o Ocidente,me levam a aprofundar o tema,reformulando algumas concepções que demonstrei na época do atentado ao Charlie Hebdo,não no sentido de defendê-lo,mas de compreender que certas imagens realmente podem ofender uma pessoa de forma ilegítima.
Em primeiro lugar vi neste documentário uma afirmação de  que embora o Corão não proíba a realização de imagens do rosto do profeta a  tradição o impede , para permitir que  os jovens tenham esta imagem na  sua imaginação.
Esta imaginação,assim como o pecado do pensamento dos cristãos,pode  ser controlada,inclusive no seu aspecto crítico?Quero dizer um menino muçulmano que imagina o rosto do profeta não poderá aduzir a  ela um comentário jocoso ou um princípio de crítica quanto aos seus eventuais erros de condução da religião?Pode-se  confiar em que todos serão dogmatizados por esta proibição de imagens?Evidentemente que não.
Quando um menino cristão pensa na Virgem Maria ele não vai se excitar eventualmente?
Dostoievski ,no maior romance já escrito ,“Os irmãos Karamazovi”,culpa um dos personagens principais,Dimitri,de  assassinar o seu pai,mesmo que não tenha sido ele,pelo critério do pecado de pensamento.Não foi ele quem matou,mas deve ir para a Sibéria,mesmo por erro judiciário,porque o pecado do pensamento é mais importante.É claro que este tipo de  conceito gera a possibilidade de violação criminosa da intimidade humana.
É aquela história:quando Daniela Perez foi assassinada um monte de piadas grosseiras rolaram pela internet e a  mãe,Gloria Perez, poderia  afirmar que o sofrimento dela não era levado em consideração pela democracia  e esta atitude ,se não contraditada por quem é ofendido pode  se reproduzir numa escala infinita e gerar e reproduzir um comportamento coletivo e não raro estatal totalitário,que aliás esta é a   origem do fenômeno.
Em primeiro lugar nada disso justifica o crime em qualquer circunstância,como reação.Contudo é preciso entender que numa época em que a imagem ainda é mais importante do que o pensamento que se expressa em palavras(um analfabetismo funcional mundial),o seu uso provoca estas injustiças.
A imagem do Profeta como uma bomba sugere sim que todo muçulmano é terrorista,o que não é verdade e portanto,ainda que a intenção do chargista não tenha sido esta,ela ocupa um papel político desastroso,o qual deve ser repudiado,como opinião e não como censura.
A reação dos muçulmanos ao queimar a bandeira dinamarquesa parece sugerir  que há um uso político do outro lado também,que concordaria com  a insinuação da imagem.
Nós vivemos num mundo em que cada vez  mais o pensamento,a  análise, é substituída pela manipulação de frases feitas que conduzem massas inteiras para caminhos não escolhidos.
Não adiantou nada criticar os regimes totalitários,a manipulação do mass  media,porque a democracia ficou refém deste mercado de ilusões que serve aos propósitos  do lucro e dos interesses políticos atinentes.
Nós vemos em eleições no Brasil candidatos evangélicos colocarem em adesivos:” Não precisa discutir,basta me seguir” ou “ Quem não  vive para servir não serve para viver”,revelando um princípio de morte para quem diverge.
Assim sendo nós temos que repensar os critérios da democracia diante deste quadro,não no sentido da censura,repito,mas no da consciência dos cidadãos de não violar a intimidade,de ter cuidado quanto aos discursos,aos conceitos emitidos em relação aos outros.

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