O emicida
falou hoje sobre coisas que eu tenho falado freqüentemente aqui.O ocidente é
organizado desde a Idade Média,de cima para baixo:
A
aristocracia ,com a ajuda da Igreja ,estabeleceu
uma hierarquia e uma relação entre sexo e poder e determinou quem podia entrar
neste esquema.Judeus,negros,homossexuais,índios,estariam
fora.Os brancos ocidentais estão dentro.
Na minha
opinião todo este esquema deve ser superado por um republicanismo radical
e todos devem se colocar no âmbito da
democracia e do direito de forma igual.
Para estes
setores excluídos enfrentarem estes resultados deste esquema medieval,que
casualmente se identifica com a raça
caucasiana e com a perspectiva do macho,não cabe um sentimento de vingança,porque
se fosse assim as mesmas violências que este esquema provocou serão praticadas
por suas maiores vítimas.
Eu sempre
defendi a Teologia da Libertação,contudo penso que é preciso constituir uma
nova religião,como disse o cardeal Ratzinger
a Leonardo Boff,não sendo legítimo mudar de dentro a Igreja Católica,porque ela,apesar
das suas responsabilidades, tem o direito de existir.Quantas vezes eu falei aqui ,com respeito ao comunismo:qual
o movimento que não tem esqueletos no armário?Se criticamos Stalin nós temos
que fazer o mesmo com relação aos últimos Papas,que não denunciam(inclusive
Ratzinger)os escândalos de pedofilia e crimes
financeiros no Vaticano.
Ainda que a
Igreja Católica tenha responsabilidades, o princípio democrático de ela querer
existir como tal é legítimo.
O segundo
erro dos setores excluídos é fazer das
suas lutas algo semelhante à luta de classes.A luta dos negros,índios,judeus e
lgbt é,antes de tudo,para demonstrar que estes grupos sabem se defender.Isto
tinha sido ensinado por Ghandhi,que exigiu que seus amigos ingleses saíssem do
movimento de Independência para que os indianos soubessem da sua força.Mas no
momento seguinte afirmou que os ingleses seriam sempre seus amigos.
Do ponto
vista conceitual esta necessidade é real,mas as diferenças entre os casos
citados e estas lutas são claras,principalmente no âmbito das democracias e
mesmo nas ditaduras esta separação não foi exigida por ninguém.
Pouca gente
sabe que na luta contra o Apartheid setores brancos democráticos participaram
,com anuência do líder ,e foram para a
prisão e saíram junto com Mandela,sendo
isto,inclusive,uma prova de força do movimento,o qual estava progressivamente
ganhando espaço na sociedade como um todo,inclusive ,na elite branca,que
forçava seus lideres a ceder.
Estes
movimentos alternativos sofrem com estes erros.Não existe luta racial,não
existe luta dos judeus contra o mundo,mas no caso do movimento lgbt há um dado específico que o
diferencia ainda mais ,e que eu já disse
a amigos meus do movimento(obtendo
inclusive concordância).
O movimento
lgbt,notadamente o do homossexualismo masculino,ataca o poder,mas também sente fascínio
pelos elementos fálicos do Poder.No fundo ,no fundo,mudei a minha concepção de luta de classes,deixando para trás Marx e o
“ Manifesto Comunista”,porque percebi na militância que esta luta é menos por
questões sociais do que por ressentimento e inveja das classes altas.
Isto gera na
luta política um aspecto pessoal de revolta que obscurece a análise total do problema e limita o alcance
das realizações dos movimentos.
O movimento
lgbt enveredou pelo caminho certo de
lutar ideológica e argumentativamente
contra os discursos excludentes dos pastores
e sacerdotes em geral,dentro de
um contexto necessário em nossa época de laicização,de tornar a religião não
uma questão de estado ,mas de foro íntimo,privado;mas ,vez por outra, o
emocionalismo aflora,diante,talvez da constatação de que esta luta é longa.Eduardo
Galeano fez,antes de morrer,uma (auto-)crítica à arrogância das revoluções que pretendem de
uma vez só resolver todos os
problemas,mas subliminarmente a elas está aquilo que Malcom X disse uma
vez num discurso :” Nós queremos a nossa
libertação agora”.
As revoluções
,como todas as lutas e como a vida ,não são para os seus fautores,mas para os
descendentes.É o princípio humano exposto pela trajetória de Moisés.O que
fazemos em vida repercute na eternidade ,mas esta só o é quando há o outro,o
próximo,o seguinte.
As atitudes
de Jean Willis em relação ao Pastor nos remetem a Malcom X.Este ,para replicar
às ofensas racistas do mundo branco estadunidense,se referia a ele como este “
lugar sujo onde brancos nojentos vivem”,numa atitude que até certo ponto cabe
no seio próprio de uma estratégia,mas ela não pode ser finalidade e tem que ser
realizada dentro de determinados contextos.
As ofensas só
unificaram a comunidade eclesial da
Igreja em torno do pastor que se portou como vítima,quando era algoz,inclusive
escondendo o erro da escolha por parte do governo e explicitam que no caso deste movimento,em
que Jean Willis é um dos próceres,há uma confusão,supracitada,entre o aspecto
individual da revolta e a exigência de inserção na democracia e no público,de
modo justo.
E não só
isso, também setores liberais da sociedade se afastam pelo seu tom agressivo,Isto vale para o movimento negro
também.No afã de provar a legitimidade óbvia do negro,certas ações apontam para um racismo ao contrário,à
caracterização de qualquer branco que usa terno,como beneficiário da escravidão
e explorador.E as lideranças negras não atentam para o perigo de guerra racial
que isto pode provocar.
Então é preciso
entender,para rever a estratégia,que uma coisa é o lado individual,outra a relação com a
democracia.
É melhor
,para evitar estes perigos ,convencer a
sociedade como um todo da legitimidade óbvia desta rebeldia diante da
exclusão, do que apostar num confronto,que é o que tem acontecido.
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