segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Jean Willis



O emicida falou hoje sobre coisas que eu tenho falado freqüentemente aqui.O ocidente é organizado desde a Idade Média,de cima para baixo:


A aristocracia ,com a ajuda  da Igreja ,estabeleceu uma hierarquia e uma relação entre sexo e poder e determinou quem podia entrar neste  esquema.Judeus,negros,homossexuais,índios,estariam fora.Os brancos ocidentais estão dentro.
Na minha opinião todo este esquema deve ser superado por um republicanismo radical e  todos devem se colocar no âmbito da democracia e  do direito de forma igual.
Para estes setores excluídos enfrentarem estes resultados deste esquema medieval,que casualmente se  identifica com a raça caucasiana e com a perspectiva do macho,não cabe um sentimento de vingança,porque se fosse assim as mesmas violências que este esquema provocou serão praticadas por suas maiores  vítimas.
Eu sempre defendi a Teologia da Libertação,contudo penso que é preciso constituir uma nova religião,como disse o cardeal Ratzinger  a Leonardo Boff,não sendo legítimo mudar de  dentro a Igreja Católica,porque ela,apesar das suas responsabilidades, tem o direito de existir.Quantas vezes  eu falei aqui ,com respeito ao comunismo:qual o movimento que não tem esqueletos no armário?Se criticamos Stalin nós temos que fazer o mesmo com relação aos últimos Papas,que não denunciam(inclusive Ratzinger)os escândalos de pedofilia e crimes  financeiros no Vaticano.
Ainda que a Igreja Católica tenha responsabilidades, o princípio democrático de ela querer existir como tal é  legítimo.
O segundo erro dos setores excluídos é  fazer das suas lutas algo semelhante à luta de classes.A luta dos negros,índios,judeus e lgbt é,antes de tudo,para demonstrar que estes grupos sabem se defender.Isto tinha sido ensinado por Ghandhi,que exigiu que seus amigos ingleses saíssem do movimento de Independência para que os indianos soubessem da sua força.Mas no momento seguinte afirmou que os ingleses seriam sempre  seus amigos.
Do ponto vista conceitual esta necessidade é real,mas as diferenças entre os casos citados e estas lutas são claras,principalmente no âmbito das democracias e mesmo nas ditaduras esta separação não foi exigida por ninguém.
Pouca gente sabe que na luta contra o Apartheid setores brancos democráticos participaram ,com  anuência do líder ,e foram para a prisão e  saíram junto com Mandela,sendo isto,inclusive,uma prova de força do movimento,o qual estava progressivamente ganhando espaço na sociedade como um todo,inclusive ,na elite branca,que forçava seus lideres  a ceder.
Estes movimentos alternativos sofrem com estes erros.Não existe luta racial,não existe luta dos judeus contra o mundo,mas no caso  do movimento lgbt há um dado específico que o diferencia ainda mais ,e  que eu já disse a  amigos meus do movimento(obtendo inclusive concordância).
O movimento lgbt,notadamente o do homossexualismo masculino,ataca o poder,mas também sente fascínio pelos elementos fálicos do Poder.No fundo ,no fundo,mudei a minha concepção  de luta de classes,deixando para trás Marx e o “ Manifesto Comunista”,porque percebi na militância que esta luta é menos por questões sociais do que por ressentimento e inveja das classes altas.
Isto gera na luta política um aspecto pessoal de revolta que obscurece a  análise total do problema e limita o alcance das realizações dos movimentos.
O movimento lgbt  enveredou pelo caminho certo de lutar ideológica  e argumentativamente contra os discursos excludentes dos pastores  e sacerdotes  em geral,dentro de um contexto necessário em nossa época de laicização,de tornar a religião não uma questão de estado ,mas de foro íntimo,privado;mas ,vez por outra, o emocionalismo aflora,diante,talvez da constatação de que esta luta é longa.Eduardo Galeano fez,antes de morrer,uma (auto-)crítica à  arrogância das revoluções que pretendem de uma vez  só resolver todos os problemas,mas subliminarmente a elas está aquilo que Malcom X disse uma vez  num discurso :” Nós queremos a nossa libertação agora”.
As revoluções ,como todas as lutas e como a vida ,não são para os seus fautores,mas para os descendentes.É o princípio humano exposto pela trajetória de Moisés.O que fazemos em vida repercute na eternidade ,mas esta só o é quando há o outro,o próximo,o seguinte.
As atitudes de Jean Willis em relação ao Pastor nos remetem a Malcom X.Este ,para replicar às ofensas racistas do mundo branco estadunidense,se referia a ele como este “ lugar sujo onde brancos nojentos vivem”,numa atitude que até certo ponto cabe no seio próprio de uma estratégia,mas ela não pode ser finalidade e tem que ser realizada dentro de determinados contextos.
As ofensas só unificaram a  comunidade eclesial da Igreja em torno do pastor que se portou como vítima,quando era algoz,inclusive escondendo o erro da escolha por parte do governo  e explicitam que no caso deste movimento,em que Jean Willis é um dos próceres,há uma confusão,supracitada,entre o aspecto individual da revolta e a exigência de inserção na democracia e no público,de modo justo.
E não só isso, também setores liberais da sociedade se afastam pelo seu  tom agressivo,Isto vale para o movimento negro também.No afã de provar a legitimidade óbvia do negro,certas ações  apontam para um racismo ao contrário,à caracterização de qualquer branco que usa terno,como beneficiário da escravidão e explorador.E as lideranças negras não atentam para o perigo de guerra racial que isto pode provocar.
Então é preciso entender,para rever a estratégia,que uma coisa  é o lado individual,outra a relação com a democracia.
É melhor ,para evitar estes perigos ,convencer a  sociedade como um todo da legitimidade óbvia desta rebeldia diante da exclusão, do que apostar num confronto,que é o que tem acontecido.

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