sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Papa Francisco,a encruzilhada



Há tempos atrás  eu fiz uma provocação sobre a necessidade de o Papa Francisco se portar de  forma idêntica a Al Capone,que vigiava o seu  contador todos os  dias.Era  só uma piada ,mas vendo,no contexto destes festejos natalinos, que,nas televisões ,são mostrados   filmes  e documentários sobre o cristianismo,penso que é preciso aprofundar este  conceito.
No canal History um documentário,em especial,me chamou  atenção:” Dinheiro Sagrado”.Pois fiquei impressionado com a  quantidade de  dinheiro desviado do entorno próximo ao Vaticano.Eu disse: do entorno do Vaticano,não numa diocese nas Filipinas,por exemplo.Também é incrível como esta hierarquia não é obedecida de  forma alguma neste entorno:se o Papa resolveu seguir os conselhos da teologia da libertação e usar de  simplicidade,as maiores autoridades em torno dele,não seguem,como deveriam,o seu exemplo,usando rols royces,gastando dinheiro a rodo e  tudo o mais.Onde está o princípio de obediência ao Papa?Sempre  fui acusado de ser fundamentalista,mas para mim,em qualquer movimento você deve demonstrar coerência.Se eu fosse católico seguiria o princípio de que o Papa é não só o seu chefe espiritual,mas também,chefe político.Então de  duas maneiras o que ele manda você  fazer,você  tem que obedecer.Quem não quer entrar na Igreja não entre.É assim para qualquer coisa.
Uma das razões para  a derrota do comunismo foi a absoluta contradição esquizofrênica entre o que se é e o que se  deve ser,segundo as palavras,segundo os discursos.
Isso vale para qualquer movimento e  é a sua condição de  sobrevivência  e  continuidade.Quando eu disse que o Papa deveria ser como o Al Capone não era se tornar evidentemente um bandido,mas deveria cair no mundo,admitindo a maldade humana.
Uma das características da reforma protestante,expressas por seu fundador Martinho Lutero era romper com esta tradição católica medieval de que o mundo era lugar de pecado e  que portanto o comportamento deveria seguir esta linha,dentro da qual deveria se temer o mundo ,como o lugar onde  está o diabo,tentando as almas(como  se dentro de casa não fosse mundo também).Tenho certeza  de  que Lutero não acreditava na existência do Diabo,mas para induzir o camponês alemão supersticioso a cair  no mundo  e ver esta verdade,deixando de lado as superstições, o reformador,nos seus textos,dizia  que seguraria o diabo pelo chifre e daria um soco no seu olho,pois ele era fraco diante da sua fé.De noite  Lutero atemorizava o diabo com seus gases...
Algum tempo atrás  eu assisti a um outro documentário em que o Papa bento XVI mostrava o seu cotidiano,o cotidiano de um Papa,de um padre.Toda a  concepção ,que se reflete em Rousseau sobre a natureza  originariamente boa  do homem,deriva desta  convicção de todo sacerdote cristão-católico de  que o homem,sendo feito à imagem e  semelhança de Deus,é essencialmente bom,porque se assim não fosse Deus  traria em si o mal,o que não é admissível.A rotina de um Padre não é mediatizada pelo dinheiro,mas pelo aconselhamento,pelo refinamento de idéias e valores virtuosos,na confiança de que o fiel o seguirá.
Às vezes este Papa,quero dizer Francisco,bem como o anterior,demonstram um sofrimento muito consentâneo com esta realidade que se coloca diante deles,pela primeira vez.Antes  a questão era saber se  o Papa é um político ou pastor,ou os dois(o que acaba sendo).Hoje a  situação se tornou mais dramática,porque fica  claro dos documentários ,que uma atitude ou outra não vai ser suficiente,porque  o Chefe da Igreja  vai ter que admitir a natureza má do homem,corruptível, e criar mecanismos não de convencimento e persuasão,como normalmente a teologia  cristã defende,acreditando ser possível reconduzir  a ovelha desgarrada ao regaço divino,substituindo esta confiança pelo ato de exclusão e punição.
É fácil excomungar um comunista.Comunistas são poucos dentro da igreja.Mas é difícil achar na  conduta do católico uma natureza humana corruptível.Não vai adiantar o Papa  dizer que uma coisa  é pecado ,outra  a corrupção.Corrupção não é pecado?Este pecado não é passível de excomunhão?Claro que é,mas além de isto,a  corrupção,estar fortemente presente na natureza  do católico,ela demonstra que não é possível separar a condição do católico,que não peca, do homem  que se  corrompe.Esta separação,escolástica,serve,inclusive,de anteparo e proteção para estas atividades  criminosas de pessoas comuns e  de batina que cercam o Papa.Não é toa que a máfia sempre procurou a Igreja.
É só esta a explicação para que este Papa,que demonstra preocupação com estes problemas,não entregue pedófilos da Igreja para os países  em que aturam,puni-los.Esta é  a única explicação de porque a  Igreja se manifesta politicamente,mas exige,num segundo momento respeito a ela,como mundo à parte e de pureza.
Mas não tem saída,o Papa vai ter que unir ao pecado o símbolo atual da mundanidade,a corrupção,criando as condições para uma laicização de proporções  mundiais,conforme a força da Igreja,transformando este momento num momento crucial(crucial vem de  cruz...).

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