Todo mundo
sabe que eu defendo a descriminalização do uso da maconha ,mas para fins
de controle e ajuda às pessoas que já
não têm como voltar do estado de dependência,que já padecem com o problema da abstinência.A minha posição já
era de muito tempo e se consolidou
quando assisti o documentário do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre
esta questão.O modelo que eu repudiava
era o que acontecia na Suíça e depois passou
para Portugal:escolhia-se uma
área,geralmente inóspita, de uma cidade(Lisboa),para as pessoas fazerem o que
bem entendem.Não achava ( e não acho)isto certo.Meu conceito de liberação não é este,mas o que eu vi no
documentário,um hospital ,na Holanda,que recebia estas pessoas,vamos
dizer,incuráveis(com abstinência),fornecendo as drogas,sob controle e oferecendo ajuda psicológica,palestras,ajuda
para arrumar um trabalho e outros
auxílios,me convenceu.
Não tem
sentido anatematizar a pessoa que já
se encontra num estágio avançado de
adicção.É hipocrisia.O mesmo acontece com o doente de câncer terminal.A droga,se
alivia a dor ,deve ser ministrada.Hipocrisia,outra
atitude.
Eu não
costumo falar em termos pessoais aqui,mas
neste caso vale.Se fosse assim,como na
Holanda,onde hospitais dão esta ajuda,eu
teria tido condições de ajudar uma
pessoa de minhas relações a viver uma
vida,pelo menos tranqüila, e com chance de
viver normalmente.
A pessoa
iria ao hospital ,tomaria a droga,sem culpa,sem anátema, e se sentindo
afetivamente amparada,teria muito mais condições
de tomar a decisão de abandonar o consumo,podendo até se reintegrar na
sociedade,pelo trabalho.
Muitos vão
dizer que a religião já faz isso,mas eu acho melhor não misturar estas coisas,porque
além do problema da culpa,que impregna o ativismo religioso,existe,ainda que
subliminarmente,uma espécie de toma-lá-dá-cá,porque a
religião joga com a possibilidade da pessoa se converter e a
pessoa se sente ,no mínimo,pesarosa,de não fazê-lo,achando(errada e
inconscientemente)que,por isso,está
traindo os seus salvadores.
Eu entendo
que esta ajuda deve ser laica,preservando a
condição humana expressa na cidadania,da
pessoa com problema ,e assim,sem
este peso subliminar, ela pode se
levantar com mais calma e mais rapidez,bem como com mais segurança para não retornar ao vicio.
No caso da
liberação radical patrocinada por Pepe
Mujica,ainda que as intenções sejam semelhantes a estas,eu vejo que a falta de critérios
limitadores,acabará por fazer gorar este projeto,que é deixado na mão de cidadãos
comuns,sem a participação do estado e da responsabilidade social e coletiva que ele representa.
Eu duvido que
numa das crises econômicas mais que possíveis no Uruguai(e no resto do mundo[por mais que a gente torça
para que não aconteça]),uma pessoa não vá vender o produto da sua
plantação,para mitigar os seus problemas pessoais.Duvido.Duvido que
traficantes não apareçam por lá para comprar estes produtos,devido às
facilidades que esta liberação oferece.Aquele brasileiro que foi condenado à
morte na Indonésia,escolheu este país,em que não existe o tráfico,justamente
porque queria ganhar,dentro do critério da oferta e da procura,uma bolada( e
ficar rico talvez[o que não aconteceu]{mas exatamente o contrário...}).
Então eu
penso que esta decisão do ex-presidente uruguaio vai gerar inúmeros problemas e se quisermos discutir esta questão aqui no
Brasil é preciso levar isto em consideração,ou liberação total e pura e simples não.
Além do
mais fica claro que o problema da droga só será
resolvido dentro de uma perspectiva d e colaboração internacional.