O que
mais me estarreceu
em toda a trajetória
do escritor é não só esta
capacidade de se colocar contra
a maré,mas acima
de tudo exagerar este
conceito à estratosfera.Me refiro
à opinião que
ele tinha dos
teatrólogos citados no
artigo anterior.Segundo ele,ironicamente falando,eles
eram “ gênios”.Seguidores de
outro “ gênio”,Brecht.Eles ,segundo
Nelson ,estavam estragando o teatro
nacional.E como forma de
evitar este estrago , Nelson chegou
ao cúmulo de
recomendar aos novos autores,que
fossem “ burros”.Ele dizia:” Sejam
burros”,numa postura que
eu considero muito
socrática.
Num país
não muito pródigo de
realizações culturais,no
limiar de construir uma
civilização,esta atitude socrática de
mostrar os limites é essencial
para acabar com as
vaidades ,as manipulações da
cultura pela política(inclusive no caso dele,veremos
em outro artigo)e as
falsidades de todo
tipo.
Socráticos como
ele foram Vinicius de Morais,Tom
Jobim,Noel Rosa,Adoniram Barbosa,grandes discernidores,mais que
construtores de grandes
sistemas e conhecimentos.Se bem que o conhecimento verdadeiro,como
ensina Sócrates,é o discernimento.Não é o acúmulo
de conhecimento,mas o pensamento discernidor sobre
ele.
E não há
mais discernimento do que nesta
frase citada de Nelson.E
mais do que isto,coragem moral para fazer explicitamente,numa época
competitiva como a nossa,em que não se
pode demonstrar publicamente falhas humanas indissoluvelmente ligadas à
humanidade,uma confissão de limite
e de ignorância e tornar isto motor
de algo novo.
Os
sub-gênios,Vianinha e Paulo
Pontes,copiadores de Brecht, não
foram capazes de produzir um teatro nacional.Quem foi,foi o ignorante.O Burro.