terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Vasco!



Muita gente vai se  irritar com o fato de um tricolor  falar isto,mas  uma coisa  é o torcedor,outra  o cidadão.Ou,por  outra:no torcedor existe o cidadão,o qual deve ensinar ao primeiro  quem manda e  a  hora de  separar as duas coisas.
Principalmente o cidadão do estado do Rio de  Janeiro,que vem sendo progressivamente esvaziado desde a transferência da capital para Brasília,passando pela  cassação de Lacerda(o último político genuinamente do Rio de  janeiro capaz de chegar à presidência)e  chegando à  fusão.
O que restou do Rio de Janeiro foi o espetáculo esportivo  do futebol e este já vem sendo,como eu tenho denunciado,manipulado ,no interesse  das elites,contra o povo brasileiro mais humilde(que é o responsável pelo crescimento e estabelecimento do futebol como manifestação nacional incomparável),num processo clássico de  usurpação.
Está lá  em Gilberto Freire e Mário Filho:o Rio de Janeiro é a  síntese irradiadora da nacionalidade;o Brasil é constituído de vastas solidões(como dizia  Joaquim Nabuco),do interior em geral,paulista em particular(o interior mais forte),do sul(populações meridionais -Oliveira Vianna),o interior  nordestino,mas o centro psicológico do Brasil é o Rio de Janeiro.
Pelas circunstâncias políticas citadas o Rio de Janeiro vem sendo  despojado desta característica,que eu considero que tem que  ser preservada.Muitos  objetariam que a vida é assim,o movimento social é assim(a História é assim).Mas,em primeiro lugar o esvaziamento do Rio de Janeiro atinge  a população,economicamente,em todos os sentidos.Não se esvazia  região nenhuma,mas se  a faz  crescer para favorecer as populações.Esta  é a história  verdadeira.
Em segundo lugar, estas constatações dos intelectuais citados têm a ver,não só no pensamento deles,mas na realidade,com o projeto nacional que eles  queriam e propunham e  são um referencial de  discussão no seguinte sentido:se o Rio de Janeiro é esvaziado o projeto nacional o é também.
São Paulo é um grande  estado,mas egocêntrico,exclusivista,voltado para o seu interior.São Paulo nunca quis ser um pólo irradiador para o interior  do Brasil,como um todo,porque isto tiraria a sua  primazia.Aliás  foi este um dos fatores que fizeram Getúlio Vargas vencer a” Revolução” Constitucionalista de 32:São Paulo não tinha projeto nacional para  oferecer.Falava-se  até em separatismo...A divisa de São Paulo,atribuída a Júlio César “ Duco non Ducor”,que significa “ Conduzo,não sou conduzido”,deve ser mudada para o bem do projeto nacional ,no qual São Paulo figura como elemento decisivo.
Quando Juscelino transferiu a capital ele pensou neste projeto,mas pensou também em desalojar a  oposição conservadora,criar as suas próprias(e  novas)lealdades,olhando a eleição de 1965.Tudo muito bom,mas era preciso um projeto compensatório  para o Rio de Janeiro.
Até a  fusão,na década de  70,o Rio,que  fora esteio decisivo do golpe de  64,foi uma pedra  permanente no sapato  da ditadura militar,que ,então,montou um esquema político,a  partir do governador Chagas Freitas(que substituiu o realizador da fusão,o brigadeiro  Faria Lima),juntando os políticos do interior fluminense com os da cidade-estado.Isto acabou  com o lacerdismo no Rio de Janeiro e  diluiu,no fisiologismo ,o furor  oposicionista  dos cariocas,além de prejudicar a arrecadação da  cidade-estado,cujos  tributos passaram a ser divididos com o interior,ou seja não mais aplicados no Rio de Janeiro,capital.Quer dizer ,havia um propósito de destruir o Rio  financeiramente,para desencorajar políticos  anti-ditadura.
Todos sabem que eu prezo pela independência  do esporte em geral e do futebol em particular frente à política,mas esta não é  a realidade,nunca foi,e ,para separarmos isto em definitivo  e ambos realizarem a  sua vocação cultural e educacional(dentro do projeto nacional)é preciso reconhecer que o desporto,como manifestação cultural, é expressão da identidade do Rio de Janeiro,de sua irradiação no Brasil e a situação dos clubes  do Rio de Janeiro,tanto grandes,quanto pequenos ,revela a verdade do despojamento crescente do estado,como entidade política.
Com o chaguismo o Rio de janeiro saiu ,até hoje,da disputa presidencial e das grandes  questões nacionais,exceto para perder,como foi no caso dos royaltes  do petróleo.
A tentativa de Sérgio Cabral de  usar a  copa e  a  olimpíada para se lançar nacionalmente,esbarrou na óbvia composição oportunista do PMDB fluminense  e carioca(herdeiro do chaguismo),que,de  olho nas benesses  do governo Lula,deixou a questão do petróleo seguir,desmoralizando Sérgio Cabral,o qual se  apartou em definitivo do PMDB,saindo antes ,para evitar um desgaste de  seu sucessor,Pezão,quem  sofre com problemas de caixa ,que têm relação com estes  fatos todos.
Quando o Brasil ganhou o direito de fazer a Olimpíada  ,quem falou nos programas esportivos o dia todo não foi o Sérgio Cabral,mas Dilma...
Os clubes  do Rio de  janeiro  estão sofrendo há décadas com tudo isto.É visível a disparidade entre os clubes de São Paulo,Minas e Rio Grande  do Sul.Eles  têm tantas dívidas quanto os clubes do Rio,mas estão se modernizando a  passos largos e entendendo a  mudança do futebol brasileiro, que vai ter que se conectar com o futebol mundial,sem perder a sua natureza específica(coisa  que não está  acontecendo),nacional.
Quando que um clube do Rio poderia  construir uma arena como a que Grêmio e Internacional fizeram?E também eu não acho que se o fizerem( e eu entendo que  devem fazer,explico mais abaixo porquê)devem fazer arenas européias,mas estádios modernos com características nacionais e  populares,numa reação ao que fizeram ao Maracanã,por ordem destes eurocêntricos da FIFA.
A questão é  que ,como dizia  João Saldanha,os  campeonatos estaduais estão condenados ou não servem mais como parâmetro de nada.Eu penso que eles devem ser reformulados,mas o parâmetro é o campeonato brasileiro e  a inserção dos times brasileiros nas competições  internacionais.
Eu seria incoerente se,tendo esta perspectiva nacional(sem nacionalismo),eu desejasse o fim dos estaduais.O Brasil é o único país que tem este tipo de  competição e com ela  foi tricampeão do mundo.Os estaduais podem ter outra função e em outro artigo exporei o meu pensamento sobre esta função.
Eurico Miranda ,ao ganhar o estadual deste ano,agiu como Napoleão,depois de voltar do primeiro exílio,da ilha de Elba:perdendo o contato com a realidade acabou avaliando mal  a situação,pensando que porque o Vasco foi campeão carioca  não teria problemas,mas teve e não dispôs de tempo para mudar a  situação.
Eurico também recebeu o clube  de um torcedor,que preferiu gastar em bons times  ,para sair da série B,do que fazer aquilo que está diante dos clubes  cariocas:a necessidade de  resolver os problemas financeiros  em definitivo,para se modernizarem estruturalmente,mantendo times  competitivos.Roberto não viu toda esta moldura e  deixou para um Napoleão já meio cansado,outras ilusões.
Mas estas ilusões são as dos clubes  do Rio.Diante deste quadro vai ser inevitável para os clubes do Rio ter os seus próprios estádios,para arrecadar soberanamente.A administração  do Maracanã ou do Engenhão não vai ser suficiente ,pois os lucros aí são  divididos.
A Unimed ,no Fluminense ,tinha a obrigação de apoiar esta modernização do clube  e a  direção tricolor tinha que pressionar,mas como se vê ,a  visão pessoal e pequena  dos dirigentes atrapalha.A prova é que neste campeonato o Fluminense estava certinho,podendo crescer e disputar lá em cima,talvez  o título,mas a ganância do Sr. Mário Bittencourt pôs  tudo a perder.
Vendo que o time estava em ascensão e pensando na sua candidatura à presidência do Fluminense,contratou Ronaldinho,que mesmo que fosse  aquele do Atlético,tinha que se adaptar ao time e não foi este o caso,porque o time se desencaixou.
Até hoje ,eu não sei porque o Botafogo não processou o Engenhão pelo erro de engenharia que  deixou o clube sem fonte arrecadadora e jogou o projeto Seedorf  no lixo.
O Flamengo nasceu do Fluminense para arregimentar as massas excluídas do nosso país.O eixo de irradiação histórica do futebol brasileiro,e  da mentalidade brasileira,é o Fla-Flu.Em 2013,se não fosse a Portuguesa errar,o Fla-Flu ia ser disputado na série B.Isto seria grave.
O Flamengo necessita de uma nova reformulação,como a realizou Márcio Braga em 1976.
Como é grave o Vasco cair de  novo.O Bangu foi o primeiro time a  admitir negros nos seus quadros,mas o Vasco representou o estabelecimento do primeiro passo da ascensão não só do negro,mas do povo brasileiro ao proscênio esportivo,para jogar um papel político.
Notem bem que mesmo no segundo governo,Vargas,já de posse do Maracanã,continuou fazendo os seus encontros com os trabalhadores  em São Januário ,porque lá  o significado histórico é muito mais importante  e o contato é mais direto.O gol 1000 de Romário tinha que ser lá,para amplificar este significado.
Contudo o Vasco é tradicionalmente,como dissera uma vez Oto Glória,um clube muito dividido e todo este valor é jogado fora freqüentemente.O Vasco é neste fim de semana o paradigma do futebol carioca e também do projeto nacional,porque se os clubes  do Rio continuarem nesta toada e desaparecerem,o Rio desaparece  junto,perdendo as condições de reagir,bem como todo este caminho democratizante  e popular do Brasil,que passa indelevelmente pelo nosso estado,que começará a ruir.
Portanto,o Fred tem que jogar, o Fluminense tem que ser mais importante do que seu dirigente e  fazer o seu trabalho e o Rio deve ajudar o Vasco a  ser o último clube do Rio a cair.Nunca mais isto deve acontecer.
E também porque o Vasco é o nosso freguês de caderno,não o contrário como o Eurico diz.
 O time  do Vasco campeão de  1923


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