Lula II

O  nascimento  político  de  Lula

Lula  nasceu,como  sabemos,nas  lutas operárias  de  78 e  79,contra o  arrocho do regime  militar,na  fase pré-anistia.Mas ele ,evidentemente,já era  algo  mais,desde  que  sindicalista,afrontou  e  venceu pelegos  famosos como Ari  Campista.Ele  se  apresentava  como  uma  liderança  sindical que  rompia  com o peleguismo  deixado por  Getúlio.Ele  já  era por  isso,moderno,avançado,apto  a  se  colocar  na  política  pós-ditadura,de maneira atual  e  apontando  para o  futuro.

Quem  acompanhava  a  luta contra a  ditadura  já o colocava,no seu setor,como parte essencial  do processo de abertura  democrática,como uma esperança  de  algo  novo  que  viria  ,depois  que a  ditadura  se  fosse também.

O  que  era  a  abertura  para a  ditadura  militar

Geisel,ao  propor  em  sua  posse  a  “ abertura”,lenta ,gradual e  segura,estabeleceu,junto  com  seu sequaz  Golbery  do  Couto e  Silva , os  elementos pelos  quais ela  seria  feita e  conduzida  e  quais  os  seus  objetivos finais.Dentro destes  limites  é  preciso ressaltar  respectivamente  dois  aspectos:

1)O  que  os  militares  propuseram

A  ditadura  admitiu  que deveria  sair,por  causa  do desgaste das  Forças Armadas,mas  quem  deveria  conquistá-la  era  a oposição.Quer  dizer,ela  não  seria  dada,mas a oposição  a  tomaria  dos  militares  segundo os  seus  critérios  de  distensão.

2)O  pós-ditadura

Uma segunda  questão,mais  afeita  a Golbery,dava  conta de que,de modo  nenhum  o  que viesse  depois  da  ditadura,fosse  sequer  parecido  com  o  antes  de  64.Quer  dizer,a  ditadura  faz  a abertura  não  para  que o  país volte  ao passado(contra  o qual[segundo  ela]tinha lutado),mas  para  que o  Brasil andasse  para  frente,com  novos  valores,mas  não  referenciados  com o passado.

O  processo  final  de  abertura  democrática

Dentro  destas premissas é que se pode  entender  o  modo  como  Lula  entrou no futuro,no pós-ditadura,coisa  que  até  (  e mais agora)rende  inumeráveis  e inenarráveis  fofocas,quanto  ao  que teria acontecido  quando  ele foi  preso,em  uma  das  greves  daquele período.

Muito  se tem dito  sobre  isso.O  sonho dos  exilados  era  que  a  base social e  política  de Lula  se  aliasse  a  eles,para formar  um  grande  Partido  Social-Democrático  moderno.

Os  partidos  social-democráticos  modernos  se  caracterizam  por  unirem a  classe  operária  industrial  e a   classe  média.Fora  os exilados, a  figura  de  Fernando  Henrique,que  acompanhou  aquelas  greves , parecia  ser  a   adequada,como representante  da  classe  média,a  se  aliar  a  Lula  e  efetivar  este  sonho.

O  problema  é que   foi  difícil fazer  isto  diante  da  arrogância  dos exilados  e  do  próprio  Fernando Henrique  diante  de  Lula.Eles  queriam “ liderá-lo”,eufemismo de  “tutela”.

Os  comunistas  não  aceitavam a  ascensão  do  metalúrgico,bem  como  os  exilados,porque  eles  queriam voltar  ao  seu  poder  pré-64(contra  a  intenção  de  Golbery e dos militares)e tutelar a  liderança  sindical era  o  meio.Cá  entre nós é  impossível  que  um  nordestino  em  São  Paulo  fosse  ser liderado por  um  professor  vestido  com  ternos  de  linho e gravata  italiana...

Quando  Lula  foi  preso  a  coisa  mudou.Quer  dizer quando  saiu,a  sua atitude  mudou e  aí  entram  fofocas e versões  dando  conta de  que  Golbery  o  convenceu  disto ou  daquilo,por  ter  ameaçado Lula  de  morte  ou  por  ter-lhe  dado  dinheiro,essas  coisas...

O  fato  é  que  Lula ,que era  a  liderança  que  tinha a  massa (não os  exilados),resolveu  ,legitimamente  ,fazer  o  seu  partido .Esta  decisão  favorecia  o projeto  de  Golbery,aquele  segundo  item  acima citado,de  dividir  as  oposições,com  o pluripartidarismo  e ,de  quebra,tirava  da mão  dos comunistas  a  classe  operária.

As  conseqüências para  hoje

Desta  forma  o  nascimento de Lula  e  do  PT acabou  com  o sonho  da  grande  partido  moderno.Apesar  do peleguismo getulista,depois  de 1945 ,Getúlio  havia  colocado  as  premissas  para  a  formação desta  agremiação,criando  o PSD(partido  de classe  média)e o  PTB(partido da  classe  operária).No  futuro,diluídas  as  desconfianças  entre  estas  duas  classes,seria  possível  o  partido  moderno , que  ajudaria  a  formar  um  pacto  nacional,uma  hegemonia,capaz  de  mudar  o  Brasil.

Tancredo  Neves,numa  entrevista  antes  de se  eleger  no  colégio  eleitoral,respondendo a uma  pergunta  do  jornalista  Villas  Boas  Correa  sobre  a  possibilidade  deste  partido,disse  que  ainda  era preciso  esgotar  as  possibilidades  do  trabalhismo  para depois  pensar  nele.

Não  é  só  isso,é  preciso  entender de  vez  que  no  mundo  moderno,existem  trabalhadores  da  indústria  e os  de  classe  média.Muito  embora  o PT  de  Lula,como  o  nome  diz  tenha  expressado  esta intenção,o  seu chefe  nunca  aprofundou  a questão  porque  ele  tem  uma  inteligência prática  e  não teórica  para  isso.

Foi  isso  que  fez  Lula  e o PT(falta de  fundamentos)cair  nesta  malha  conservadora e  desandar  todo  o  projeto  nacional(anti-getulista)que  eles  dizem  realizar  falsamente(inclusive  substituindo o peleguismo pelo  aparelhismo).

Uma  candidatura  Lula  agora  seria  um desastre  total,acrescentando  aos  problemas  referidos  o  do salvacionismo(em  torno de  sua  figura),o  continuísmo,a  confrontação(recidiva  da  luta  de  classes),sem  falar  no  prosseguimento  da  corrupção  e das  contradições políticas  do Partido,que  luta  para manter  o  governo  tendo  que  aceitar  muito  dos  erros  do fisiologismo da  direita e  dos  conservadores  em  geral.