quinta-feira, 9 de abril de 2015

A terceirização mostra o que é um programa de direita e um de esquerda.



Vamos  tentar  ver  as conseqüências  disto.
Eu  tenho  falado  muito  na  capacidade  de  Erundina  de  propor  idéias  de esquerda.Ela  possui de  fato  um  programa  de esquerda  na  sua cabeça  socialista.Quando ela  propõe   barreiras  à  demissão  imotivada  está  limitando  um  das  características  da  exploração  capitalista,a rotatividade  da  força-de-trabalho.Marx  explicou  este  fato  no  capitulo  do “  Capital”,”Acumulação  Primitiva  do Capital”.Quando os  trabalhadores  se  organizam  são  mandados  embora  e  contratados  novos,a  baixo  custo e  sem organização,retirados  daquilo que ele  chamou de “  exército industrial de reserva”,uma  superpopulação de proletários em  volta  das  fábricas.
Experiências  de  Welfare  State  no  século  XX,a  partir  de  Roosevelt  e  Keynes,mostraram  que era possível   pelo menos  diminuir os  efeitos  desta  perversão.Getúlio  Vargas  no  Brasil  é   uma  forma  deste  controle.Muito embora  ele  se  inspirasse  no fascismo,a  proteção  do  Estado aos  trabalhadores,que atendia  a interesses  da  elite,ao garantir,através  dos sindicatos  uma  certa  proteção ,  abria,historicamente,e  dentro  da  organização  dos  mesmos,a  possibilidade futura  de  transformar  esta tutela  em independência,oferecendo  aos  trabalhadores  condições  de educação  e  a  partir daí  inserção  real,por  salários  melhores e  empregos  melhores  às  classes  médias,criando quiçá um  Estado  Social  mais  moderno.
Esta  lei  de  terceirização,tanto  quanto  a  da  redução  da  maioridade  penal,que  vai  sair,por culpa  da  fraqueza  do PT e  de  sua Presidente,é  um  dos  fatos  mais  graves  dos últimos anos  no  Brasil porque aponta para o  fim  efetivo da  Era  Vargas e  dos sindicatos,pela  imposição de  um  liberalismo  que    vai  enfraquecer  o  trabalhador  e  tornar  o  Brasil  mais perverso  para as  classes  subalternas.Um  país  competitivo e mais  darwinista  social do  que já  é.
Não  é  o que  o  “getulismo” seja  uma  maravilha ,mas  ele  abria  possibilidades ,na  medida  em que protegia  o  trabalhador.Num  país  predominantemente de  pobres  e  miseráveis e que até  hoje estão  à  margem  do processo social e  econômico,não  se pode  falar  num  contratualismo  típico  dos países  capitalistas  avançados,célula-mater  do liberalismo.A  razão disto  é que  só se pode  falar  em  categoria  do  contrato  quando  os atores sociais e econômicos  são igualmente fortes  para  se  relacionar  sem a tutela do estado.Fortes  quer  dizer  têm  dinheiro e bons empregos.
A  imposição de  um  liberalismo  puro e  simples  no  Brasil  colocará o trabalhador  numa  condição  não só de tutela,mas de  dependência  destes  novos senhores que  surgem  disso  ,diante  do  falacioso argumento da flexibilização  da economia.A  flexibilização  da  economia ,segundo  os seus  próceres,   fará com  que o  Brasil  cresça ,que a  economia cresça,já  que  sem  peias,  o consumo  crescerá ,o tributo  crescerá  e as  empresas e  o  Estado também.
Ocorre que estes  cínicos  não  falam  que o  trabalhador  brasileiro,em  sua  maioria,não é de  classe  média,como bons  salários  e  empregos(porque não  têm  educação).Ele  vive  de  ,quando  possui,salário-mínimo  e  não  vai  participar  deste processo  todo de crescimento  econômico.disto  resultarão  lucros  astronômicos e  concentrados  nas mãos  de  um  capitalismo monopolista  e predatório,similar  ao  das  multinacionais que  exploram o país.
A  terceirização    ocorre em  muitos  lugares,em  muitos  setores,como a  construção civil.As  empresas  oferecem  uma  equipe formada por um  engenheiro(às  vezes  com um pedreiro)e  vários trabalhadores  desqualificados,às  vezes  com  uma  certa prática.Nem  esta prática  é  levada  em  consideração  porque é  útil para  as construtoras  ter sempre o  trabalhador  desqualificado,que  receberá  um salário  irrisório.
Esta  lei  não  é  um retrocesso  em  relação à Getúlio ,é  em relação ao  Brasil e uma volta aos princípios do  pacto  colonial,que se estruturava  pelo binômio  salário baixo/super-exploração,própria  das  relações escravocratas.
Se nós  analisamos,na  esquerda  ,que o  trabalhador  moderno segue  este esquema colonial  escravocrático enquanto  não recebe  educação  na escola,a  qual é excludente porque elitista,devemos  ver  nesta  lei uma  continuidade.A  única  diferença  é o recebimento de um salário,que  não serve  ao  trabalhador  para viver e  se  educar.
Este  trabalhador é o escravo  moderno,alguém  que    é absorvido pela  produção porque  teve  que  trabalhar desde  cedo,não tendo  ajuda do  Estado  para  se  qualificar,e  que  não  vai  sair  deste  círculo  de exploração.Tal  é  o  objetivo  da    pátria  educadora”!
Se  isto se  disseminar  pelos  outros  setores  da  produção  tudo  o que foi conquistado até  agora  vai  ser  perdido.
Quando um bandido nos  ameaça chamamos  a  polícia.Quando a policia  age como  um  fazemos  o  quê?Que a  direita  faça  esta flexibilização  tudo  bem,mas  quando a  esquerda  o  faz,fazer  o  quê?

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