O que
de pior podia
acontecer neste processo de ascensão
dos negros no
Brasil através do
sistema de cotas,que
antes eu não
defendia mas passei a
defender,acontece agora no
Brasil.
Acabo
de assistir por
estes dias um
documentário na Tv Escola(Tv escola!)
feito por um
dos setores do
movimento negro,fazendo considerações
sobre a legitimidade e honestidade
do abolicionismo de poetas brasileiros do
século XIX,entre eles,o meu extraordinário Castro Alves,que me
ensinou a gostar e a respeitar a
raça negra.
Mexer com
Castro Alves ,com a sua honestidade, é mexer comigo.
Existe há
muito um pensamento segundo
o qual o
sofrimento alheio não
interessa,lá no íntimo,a
ninguém.No fundo,no fundo ,a
humanidade seria como Nelson
Rodrigues retratou
na peça “ Bonitinha
,mas ordinária” ou Otto
Lara Resende,na qual é
citada uma frase atribuída
a este
último que designaria
como são os
homens de fato:” mineiro só
é solidário no
câncer”,um plágio do
Otto ou de Nelson
de frase mais
antiga:” pimenta nos olhos
dos outros é refresco”.
Também,
há muito
tempo os militantes de esquerda
acusavam as formas
de assistencialismo do
welfare state,que são
usadas hoje por
eles mesmos,inclusive no
Brasil,como “ chás de
caridade”,que só tinham
com o objetivo desviar
a atenção dos
oprimidos dos seus
verdadeiros problemas e
levá-los a não fazer a
revolução ,que era o caminho absolutamente
certo de libertação,tinham esta
certeza.
Serviço social,assistencialismo , eram discursos
desonestos provindos de cínicos.
A piedade
pelo sofrimento de Cristo
na cruz é
desonesto,e sim uma
forma de autopromoção
de quem a revela.Compaixão é um sentimento
inevitavelmente falso,porque ninguém
de fato sofre ,quando
não está no
lugar do outro.
É este
conceito central de “ O Anticristo”
de Nietszche que o atou,de modo
até certo ponto
justo,a meu ver,com o
nazismo.A compaixão diminui a potência,a
afirmatividade,o perspectivismo.
Mas quando
vemos o martírio
dos militantes que
morreram sob tortura,em
nome do povo
brasileiro,que não estava
nem aí para
eles e também os
relatos de martírios
nas religiões,nós vemos que
é difícil dizer
quem é realmente cínico.
É no caminho
entre a compaixão e o que
sofre que podemos e
devemos estabelecer critérios
éticos para este sentimento e
conceito.
O exemplo
que eu trago
é de meu extraordinário Castro
Alves.Agora parte do
movimento negro afirma que
a sua atitude não é
legítima,porque o seu
sofrimento não é igual ao
dos negros na senzala
e que em
face disto ele
só conseguiu atrair
para si todo o
mérito da libertação,que era
só do movimento
dos escravos.
Esta é a
razão porque preferem Zumbi
dos Palmares.
É aquele
velho problema de o
oprimido querer demonstrar que
ele é capaz ,por
si mesmo,de se libertar,não precisando
de ninguém.A aceitação de Castro
Alves,bem como de outros,manteria ,depois
da abolição,o escravo como
um ser tutelável,já
que precisou do apoio,
inclusive dos seus opressores,para sair
de sua adversidade.
Isto tudo é fruto de
má-fé e de ignorância.Todo mundo
que lê História sabe
que o Maio de 1888
não foi uma
concessão,mas resultou também do
esforço quilombola dos
negros,que com suas ações
inviabilizava o modelo econômico
e demonstrava a desumanidade
do sistema.
Eu já
falei em outros
artigos mas repito
aqui:o fato de uma
campanha política se
desenvolver dentro de
uma colaboração entre
classes ou adversários pode ou não
resolver de vez a questão
e/ou deixar para o futuro
seqüelas terríveis.
Alguns exemplos:a
transição na África do Sul
foi pacífica e não
deixou seqüelas;a transição no
Congo deixou uma guerra.A
abolição nos Estados Unidos causou
violências,aqui no Brasil
aparentemente não,mas de qualquer modo
consagrou a exclusão do
negro liberto.
Todos estes exemplos e
outros são legítimos
segundo a perspectiva de que
é preciso fazer
transições pacíficas e
garantir a paz
no futuro ,o que
só favorece aquilo
que de bom existe
nestas transições.Nem sempre isto é possível,mas há
que se procurar.
O reconhecimento de
parte da raça branca brasileira
da necessidade e justeza da
abolição diminuiu a possibilidade de guerra,violência e conflito.Não há que
perguntar que se
a solução viesse
com uma revolução violenta ,como ocorreu
no Haiti,seria melhor.O
Haiti se tornou um
país pobre,mesmo usando a
violência.Não existe um princípio
absoluto em política.E
existem muitos fatores
em jogo para
dizer que a
dicotomia violência/não violência
resolve,exceto pelo fato de que
menos pessoas,inclusive inocentes
,são sacrificadas nestes
casos,um valor exigível.
Os mesmos
padrões éticos têm que
ser levantados no
caso da compaixão,da legitimidade
da poesia condoreira de
Castro Alves.O que prova
que a sua atitude era
desonesta e só
concorria para promover o
seu nome?Não acredito que alguém
faça alguma coisa
de tão valor como
aquelas poesias só por
interesse cínico de
aparecer.
Há meios
de provar a legitimidade
da compaixão que um ser
humano tem pelo outro.Um circulo
ético necessário e
altruístico.Vou tentar construí-lo
no próximo artigo.
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