quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Nelson Rodrigues e a traição




Durante  muito  tempo  considerei  Nelson  Rodrigues um autor  sem  muita  importância  ,quase  um pornógrafo  comum para  jovens  imberbes.
Com  o tempo  e   a  maturidade,modifiquei  este  meu  conceito,sem ,no entanto,perder  o espírito  crítico.
Continuo  não  o considerando  igual  a Shakespeare,embora  o  seu  papel  nacional possa  guardar  com o  inglês  uma  certa  similitude.Mas    isto:uma  certa  similitude  de  autor  teatral  nacional decisivo.Só  que  Shakespeare  é  universal  e  Nelson não.
Continuo  não o  considerando ,em  termos  textuais,  um  grande  autor  ou,pelo  menos ,cultor  da  língua e  nisto  tenho  do  meu   lado,Ziembinski,que  o descobriu,o  qual,certa  vez,no  Fantástico,disse  que  o texto  teatral  brasileiro  não  era  bom,diferentemente  do  texto poético.
Contudo  ,mudei a  minha  opinião quanto  às  posições  polêmicas  de  Nelson.Nelson ficou contra  toda  a  moda  de seu  tempo,permanecendo  fiel a  si  mesmo até  morrer.
Quando  o  comunismo  era  moda  ele  disse  não.
Quando  Brecht  era  moda  ,não.
Quando os seguidores  de  Brecht  no  Brasil,Vianinha e  Paulo  Pontes,eram  moda,não  de  novo.E  acrescentou  que  os  três  estavam  imbecilizando  o  teatro  brasileiro.
E  no  final  das  contas  quem  ficou  foi  ele  ,com  o  mérito  de  ter  trazido  o  homem  brasileiro  para  o  teatro,com suas  obsessões.Obsessões  dele ,Nelson e  do  homem  brasileiro.
Neste  sentido  Nelson  não  é  um  autor do sexo,é  autor  da  vida  brasileira.Se  o sexo,especificamente a  traição,aparecem  obsessivamente  é porque  esta  é  uma  questão  da  vacuidade  típica  do  homem  brasileiro.Sim porque sexo  demais é prova  de vacuidade.
O sexo  ocupa  o lugar  das  realizações  culturais e  do  trabalho.Ele  mesmo,Nelson,disse  uma de  suas  mais  significativas  frases:”quando  o  homem  não  sabe  fazer  nada  ,faz  filhos”.Seguindo este seu  raciocínio ,podemos  dizer  que  quando  o  homem  não  tem nada  na cabeça  só pensa em  sexo e quando  tem a  vocação  frustrada  do poder  tem a obsessão da  traição.Sim  porque,dentro  do  contexto  sexual,a  traição  marca  as relações  de poder homem/mulher.A  prova  da  realização  do  homem(brasileiro),da  sua  capacidade,não é ler,mas  garantir  que a  sua  mulher lhe  é  fiel  ou  que  ele  é  capaz  de tomar a  mulher  do outro.
Estes  são  os  dois  itens   fundamentais  do  sexismo  em geral e  do  sexismo  brasileiro.
Se  não  se escreve  um  livro,não  se constrói  uma  catedral,ganha-se ,conquista-se  uma  mulher  fatal ,” a  cunhadinha  fatal”,mesmo  sendo  feio,pobre e   com a expectativa de um  grande  funeral.
Não    nada  entre a  maternidade  e o  cemitério,no  Brasil?


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