Durante muito
tempo considerei Nelson
Rodrigues um autor sem muita importância
,quase
um pornógrafo comum para jovens
imberbes.
Com o tempo
e a maturidade,modifiquei este
meu conceito,sem ,no
entanto,perder o espírito crítico.
Continuo não o considerando igual
a Shakespeare,embora o seu
papel nacional possa guardar
com o inglês uma
certa similitude.Mas só
isto:uma certa similitude
de autor teatral
nacional decisivo.Só que Shakespeare
é universal e
Nelson não.
Continuo não o
considerando ,em termos textuais,
um grande autor
ou,pelo menos ,cultor da língua
e nisto
tenho do meu
lado,Ziembinski,que o
descobriu,o qual,certa vez,no
Fantástico,disse que o texto
teatral brasileiro não
era bom,diferentemente do
texto poético.
Contudo ,mudei a
minha opinião quanto às posições polêmicas
de Nelson.Nelson ficou
contra toda a
moda de seu tempo,permanecendo fiel a
si mesmo até morrer.
Quando o
comunismo era moda
ele disse não.
Quando Brecht
era moda ,não.
Quando os
seguidores de Brecht
no Brasil,Vianinha e Paulo
Pontes,eram moda,não de
novo.E acrescentou que
os três estavam
imbecilizando o teatro
brasileiro.
E no
final das contas
quem ficou foi
ele ,com o
mérito de ter
trazido o homem
brasileiro para o
teatro,com suas obsessões.Obsessões dele ,Nelson e do
homem brasileiro.
Neste sentido
Nelson não é um autor do sexo,é autor
da vida brasileira.Se
o sexo,especificamente a traição,aparecem obsessivamente é porque
esta é uma
questão da vacuidade
típica do homem
brasileiro.Sim porque sexo demais
é prova de vacuidade.
O sexo ocupa
o lugar das realizações
culturais e do trabalho.Ele
mesmo,Nelson,disse uma de suas
mais significativas frases:”quando o
homem não sabe
fazer nada ,faz
filhos”.Seguindo este seu raciocínio
,podemos dizer que
quando o homem
não tem nada na cabeça
só pensa em sexo e quando tem a
vocação frustrada do poder
tem a obsessão da
traição.Sim porque,dentro do
contexto sexual,a traição
marca as relações de poder homem/mulher.A prova
da realização do
homem(brasileiro),da sua capacidade,não é ler,mas garantir
que a sua mulher lhe
é fiel ou
que ele é
capaz de tomar a mulher
do outro.
Estes são
os dois itens fundamentais
do sexismo em geral e
do sexismo brasileiro.
Se não se
escreve um livro,não
se constrói uma catedral,ganha-se ,conquista-se uma
mulher fatal ,” a cunhadinha
fatal”,mesmo sendo feio,pobre e
só com a expectativa de um grande
funeral.
Não há
nada entre a maternidade
e o cemitério,no Brasil?
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