Quando Freud
descobriu o elemento
patológico da memória,que
revelava o trauma ,origem
da neurose,através da
análise dos sonhos,pensou ter criado
ou descoberto o círculo
interpretativo da subjetividade,que a curava e
abriu caminho para
a construção a
partir do sujeito,do
seu sentido.
Mas não
pensou que este
círculo hermenêutico pudesse
ter algo a ver com
a liberdade.Dêem uma
olhada neste vídeo abaixo,um trecho do filme
Malcolm X,com Denzel Washington :
Viram?Da mesma
forma que Malcolm
está oprimido na
prisão,ele se sente
oprimido(também talvez neurótico)pelo conceito que
lhe é imposto de Deus,um Deus
semita e branco,numa
região em que a cor
da pele é
igual a de Malcolm.
Eu não consegui
achar um trecho anterior
em que o seu
mentor nesta mesma
prisão mostra um dicionário ,em
que todas as palavras
boas são associadas
ao branco enquanto que
o mal é
associado à palavras
designativas do negro e
do preto.
Após Freud
a linguagem se
tornou um meio de afirmação da
liberdade humana.Antes dele a
liberdade era mais
ou menos identificada
ao dito de Voltaire no Dicionário
Filosófico,no verbete Liberdade:”minha liberdade
consiste em ir e
vir desde que
não sofra do joelho”.
Como Foucault
demonstrou, esta afirmação
da liberdade burguesa
não significa nada na
prática,porque outras barreiras
se colocam neste
ir e vir,como as exclusões econômicas e sociais.
Diante da
impossibilidade imediata de
fazer justiça ,ou seja,de
superar esta nova forma de opressão,a linguagem
assumiu um papel decisivo.
Porque
na falta
de liberdade real, a
linguagem,ainda mais numa
época midiática,serve como
um transcendente afirmativo da “criatura oprimida”.
Muitos,para depreciar
Freud,diziam que ele
não tinha feito
mais do que criar um “ confessionário ateu”,mas isto é uma grande
coisa,porque agora não
é preciso a tutela
de um sacerdote para construir valores subjetivos
capazes de libertar e curar
a subjetividade doente/oprimida,numa relação
mútua de condicionamento e reprodução.
Agora é
preciso ser critico,capaz de
não aceitar as
coisas como são
e se preparar
na atualidade para,pelo
menos,garantir a afirmação do
oprimido,através de sua
singularidade,destacando-o
do contexto opressor,vendo-o como
transcendente.
Quando Malcolm
contesta a imagem loura
e de olhos azuis
de Cristo ele está desconstruindo um preconceito,um discurso
político que prepara
e garante a sua opressão
real.
De lá para
cá a questão tem se tornado mais
complexa,porque ,apesar da possibilidade
do discurso subjetivo,como definir
o que é atentado à liberdade
e defesa da privacidade?O
que é válido para
um não o é para
o outro.Qual critério usar?
Anos atrás o
jogador Grafiti do São
Paulo foi chamado
na Argentina de macaco e
teve gente que disse
ser isto uma simples
ofendícula e que a sua reação
foi a de um fresco.Aranha
recentemente sofreu um
pito parecido de Pelé.
Um
homem,um macho,que tem um
pênis,tem que aguentar qualquer
coisa,senão quiser perder
a sua condição,que se
define supostamente por sua genitalidade?É a genitalidade
que define o
macho?
Brincar com
o viado,fazer piadas,implica em
uma forma de dano
ao mesmo?
O que escolher:o direito
de satirizar Maomé ou respeitar a religião?
No artigo
anterior eu já pus
alguns pródromos,na dicotomia
arguemento/intocabilidade,dir-se-ia,proteção/violação.
Se digo que
o meu profeta
é único,é maravilhoso e é puro,não
transa com homens,nem com animais,dizer
o contrário ofende a minha
fé?
Observem esta imagem:
Ela é ou
não ofensiva?
A Fé de uma
pessoa é atacada
por ela?A pessoa é
atingida em sua fé por causa
dela,ou vê ameaçada
a sua intocabilidade?
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