sábado, 31 de janeiro de 2015

A figura socrática de Nelson ou Nelson ,o Burro.



O  que  mais  me  estarreceu  em  toda  a trajetória  do escritor é não só esta  capacidade de se  colocar  contra  a  maré,mas  acima  de  tudo exagerar  este  conceito à  estratosfera.Me  refiro  à  opinião  que  ele  tinha  dos  teatrólogos  citados    no  artigo  anterior.Segundo  ele,ironicamente  falando,eles  eram “ gênios”.Seguidores  de outro “  gênio”,Brecht.Eles  ,segundo  Nelson ,estavam  estragando  o teatro   nacional.E  como forma  de  evitar  este  estrago , Nelson  chegou  ao  cúmulo  de  recomendar  aos novos  autores,que  fossem  “ burros”.Ele  dizia:” Sejam  burros”,numa  postura  que  eu  considero  muito  socrática.
Num  país  não  muito pródigo  de  realizações culturais,no  limiar  de construir  uma  civilização,esta  atitude  socrática de  mostrar os  limites é  essencial  para  acabar  com  as vaidades ,as  manipulações  da  cultura  pela  política(inclusive no caso  dele,veremos  em outro  artigo)e  as  falsidades  de  todo  tipo.
Socráticos  como  ele  foram Vinicius de  Morais,Tom  Jobim,Noel  Rosa,Adoniram  Barbosa,grandes  discernidores,mais  que  construtores  de  grandes  sistemas e  conhecimentos.Se bem  que o conhecimento verdadeiro,como ensina  Sócrates,é o discernimento.Não é o  acúmulo  de conhecimento,mas o pensamento discernidor   sobre ele.
E não há mais  discernimento do que  nesta   frase  citada de Nelson.E mais  do que isto,coragem  moral para fazer  explicitamente,numa  época  competitiva  como  a nossa,em que  não  se pode demonstrar publicamente  falhas humanas  indissoluvelmente ligadas à humanidade,uma  confissão  de limite  e de ignorância  e tornar  isto motor  de  algo novo.
Os sub-gênios,Vianinha  e  Paulo  Pontes,copiadores  de Brecht, não foram  capazes  de produzir um teatro nacional.Quem  foi,foi o ignorante.O Burro.

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