segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O problema da transição em Cuba



Muita   gente me  criticou pelo meu  último artigo,em função  de uma  suposta  visão  otimista minha.É  lógico  que  as razões  que  eu apresentei  nele  mostram  o  porquê  eu tenho esta visão ,direi  mesmo,de  desafogo,com  relação a  este problema.
Gramsci,uma  vez,se  referindo ao  processo de mudança social,seguindo  os  cânones  da dialética,disse  que  enquanto  o  novo não se  estabelece  e  o  velho não  desaparece,a  realidade  adquire  características bizarras  de indecisão  e  sofrimento,que podem permanecer no  futuro.
A  leitura  deste  conceito  tem duas consequencias  para o  nosso tema.
A  sua indefinida continuidade   poderia  acarretar  aqueles  problemas a  que eu  aludi,mas,em segundo lugar,pode ainda.A  demora  certamente  as tornaria  inevitáveis,como eu disse,mas a  resolução antecipada deste nó górdio  da guerra-fria,cria condições  para controlar  a  situação de  modo  que tudo  ocorra  suavemente,sem  cataclismos  capazes  de  atingir,principalmente o  povo de Cuba,que  toda pessoa  de  bem deve  considerar.
O meu critério diante das  transições e mais  diante  desta que  me é pessoalmente  cara e é  em si mesma  bastante complexa,é  o  do  Barão do Rio Branco.
Em  1910,pelas contribuições  ao Brasil  dadas  por  ele,o Barão  era um candidato  presidencial imbatível,mas  ele  se recusou,de forma estranha,para  alguns.
No  entanto,para  quem  o conhecia,esta  decisão era lógica:o  Barão era  monarquista e quando  a monarquia acabou a intenção dele  era  se aposentar,numa  idade considerada  tenra,para  tanto.
Conta-se que quem o demoveu  desta  vontade  de aposentadoria precoce  foi  o  próprio imperador  Pedro II,que  teria lhe dito que os regimes políticos  passam,mas as  nações(e os povos)permanecem.
Toda pessoa  de bem que faz política tem que pensar assim,apesar das ideologias.O Papa João Paulo  II  demonstrou possuir  este mesmo conceito,quando  foi à  Cuba,na  década  de 90,para iniciar entendimentos com  o regime  comunista,sem ressentimentos,mas pensando  em  resolver esta situação da maneira a menos traumática possível.
Agora a  questão  é a  mesma:não adianta  pensar no passado,mas no futuro  do povo cubano.As mudanças que virão terão que melhorar  a condição do povo,mas isto  depende  daqueles valores  ditos no artigo  anterior  e  também das  pessoas  que vão conduzir o processo,nos próximos  anos.
Não me  parece,por  exemplo,que  os comunistas  cubanos possuam  o mesmo jogo de cintura dos chineses.Me parecem ainda empedernidos  e  isto  é  um  baita empecilho.
Se  houver uma  abertura em Cuba é natural que  setores  da  sociedade  queiram  apressar  a democratização e isto pode  a expor aos  mesmos  perigos  que conduziram ao massacre da praça da Paz  Celestial.
É preciso convencer os dois lados  da necessidade de aprender com a história  e fazer  tudo com a  devida calma.Os comunistas cubanos    terão aprendido  com  a  Paz  celestial?
Do outro  lado,eu já  disse que é fundamental  a continuidade dos democratas porque  eles é que têm condições e  legitimidade (porque propuseram  o fato político)de conduzir a  transição nestes moldes.Na minha  opinião,pensando  nestes dias,Obama  poderia ter feito esta ”jogada” antes  das eleições,porque certamente  o  partido dele seria  beneficiado e  politicamente era justo e  imprescindível  afastar  esta maioria republicana.Por causa  disto e  por  causa da natureza  mais social  do Partido Democrata. Não sei  porque não o fez.
Os  republicanos não  vão  se opor  ao fim do embargo se  forem  colocados macdonalds em  Cuba,mas  o conceito  deles  de democracia   não consagra  o aspecto social  e eles  são muito  ligados aos  ressentimentos dos exilados cubanos e  podem  acabar  chancelando    aquilo que  temo ser a  mais grave  consequencia disto  tudo, a  evitar:a  retaliação.O retorno de empresas privadas  nacionalizadas  para mão de   estadunidenses,algo,para mim,ilegítimo;a  caça  aos  comunistas,a volta  da  prostituição e da  máfia.
Repito:para  mim  os  Estados  Unidos  não têm  nada a ver  com Cuba,mas nós  raciocinamos dentro do real,dentro  do  que é,segundo o  dever-ser,para  construir um futuro melhor.
Com este paradigmas e com  uma  transição  segura e  efetiva  a  relação Cuba/Estados Unidos  se  normalizará dentro daquilo que deve  nortear  as relações  entre os   países,a  paridade,sem tutela.
Finalmente,desatando  este nó  histórico nós desmontamos ilusões,grupos de pessoas  que vivem  do passado  e não propõem nada para o futuro  e podemos,assim,começar  a fazer política de novo,com  novas  idéias.

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