Muita gente me
criticou pelo meu último
artigo,em função de uma suposta
visão otimista minha.É lógico
que as razões que eu
apresentei nele mostram
o porquê eu tenho esta visão ,direi mesmo,de
desafogo,com relação a este problema.
Gramsci,uma vez,se
referindo ao processo de mudança
social,seguindo os cânones
da dialética,disse que enquanto
o novo não se estabelece e
o velho não desaparece,a
realidade adquire características bizarras de indecisão
e sofrimento,que podem permanecer
no futuro.
A leitura
deste conceito tem duas consequencias para o
nosso tema.
A sua indefinida continuidade poderia acarretar
aqueles problemas a que eu
aludi,mas,em segundo lugar,pode ainda.A
demora certamente as tornaria
inevitáveis,como eu disse,mas a
resolução antecipada deste nó górdio
da guerra-fria,cria condições
para controlar a situação de modo
que tudo ocorra suavemente,sem cataclismos
capazes de atingir,principalmente o povo de Cuba,que toda pessoa
de bem deve considerar.
O meu critério
diante das transições e mais diante
desta que me é pessoalmente cara e é
em si mesma bastante complexa,é o
do Barão do Rio Branco.
Em 1910,pelas contribuições ao Brasil
dadas por ele,o Barão
era um candidato presidencial
imbatível,mas ele se recusou,de forma estranha,para alguns.
No entanto,para
quem o conhecia,esta decisão era lógica:o Barão era
monarquista e quando a monarquia
acabou a intenção dele era se aposentar,numa idade considerada tenra,para
tanto.
Conta-se que quem
o demoveu desta vontade
de aposentadoria precoce foi o
próprio imperador Pedro
II,que teria lhe dito que os regimes
políticos passam,mas as nações(e os povos)permanecem.
Toda pessoa de bem que faz política tem que pensar
assim,apesar das ideologias.O Papa João Paulo
II demonstrou possuir este mesmo conceito,quando foi à
Cuba,na década de 90,para iniciar entendimentos com o regime
comunista,sem ressentimentos,mas pensando em
resolver esta situação da maneira a menos traumática possível.
Agora a questão
é a mesma:não adianta pensar no passado,mas no futuro do povo cubano.As mudanças que virão terão
que melhorar a condição do povo,mas
isto depende daqueles valores ditos no artigo anterior
e também das pessoas
que vão conduzir o processo,nos próximos
anos.
Não me parece,por
exemplo,que os comunistas cubanos possuam o mesmo jogo de cintura dos chineses.Me
parecem ainda empedernidos e isto
é um baita empecilho.
Se houver uma
abertura em Cuba é natural que
setores da sociedade
queiram apressar a democratização e isto pode a expor aos
mesmos perigos que conduziram ao massacre da praça da
Paz Celestial.
É preciso convencer
os dois lados da necessidade de aprender
com a história e fazer tudo com a
devida calma.Os comunistas cubanos
terão aprendido com a Paz
celestial?
Do outro lado,eu já
disse que é fundamental a
continuidade dos democratas porque eles
é que têm condições e legitimidade (porque
propuseram o fato político)de conduzir
a transição nestes moldes.Na minha opinião,pensando nestes dias,Obama poderia ter feito esta ”jogada” antes das eleições,porque certamente o
partido dele seria beneficiado e politicamente era justo e imprescindível afastar
esta maioria republicana.Por causa
disto e por causa da natureza mais social
do Partido Democrata. Não sei
porque não o fez.
Os republicanos não vão se
opor ao fim do embargo se forem
colocados macdonalds em
Cuba,mas o conceito deles
de democracia não consagra
o aspecto social e eles são muito
ligados aos ressentimentos dos exilados
cubanos e podem acabar
chancelando aquilo que
temo ser a mais grave consequencia disto tudo, a
evitar:a retaliação.O retorno de empresas
privadas nacionalizadas para mão de
estadunidenses,algo,para mim,ilegítimo;a
caça aos comunistas,a volta da
prostituição e da máfia.
Repito:para mim
os Estados Unidos
não têm nada a ver com Cuba,mas nós raciocinamos dentro do real,dentro do que
é,segundo o dever-ser,para construir um futuro melhor.
Com este
paradigmas e com uma transição
segura e efetiva a
relação Cuba/Estados Unidos se
normalizará dentro daquilo que deve nortear
as relações entre os países,a
paridade,sem tutela.
Finalmente,desatando este nó
histórico nós desmontamos ilusões,grupos de pessoas que vivem
do passado e não propõem nada
para o futuro e podemos,assim,começar a fazer política de novo,com novas
idéias.
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