quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O colapso do populismo?



O  Brasil  é  sempre  o   mesmo  país  que  espera  das lideranças,dos de  cima,soluções  para  os  seus  problemas.Esta  é uma  característica  de países  que  não  possuem  uma  sociedade  civil  organizada,segundo  alguns ,que  não  passaram pelas  chamadas  revoluções  burguesas,que  se  estruturaram  sobre  sociedades  civis  e  reproduziram  historicamente o seu  poder e hegemonia.
Octavio Ianni,num  livro  famoso “ O  colpaso  do  populismo  no  Brasil”  escrito  para analisar  as razões  do golpe  de 64,mostrou  como o modelo  populista,baseado  em personalidades  tutelares  fortes,não  conseguiu  levar adiante  as necessárias  reformas  que  o Brasil  necessitava e necessita.
Muita  gente  afirma,que  nesses meus  artigos  eu atribuo  muita  importância  ao  golpe  de  64 , que    deveria  estar esquecido.Contudo,é exatamente  porque muito  do  que o  golpe  fez ainda  está aí,que  eu valorizo  este  problema.E  é  também  pelo desejo de  superar  esta fase  histórica  que  eu  analiso  frequentemente  este  fato  ,principalmente depois  destas  últimas  eleições  e  das  suas  consequências,como  a  mudança  na  LDO.
Shakespeare tem  uma  frase “ O passado  é  o  prólogo”.Claro,as relações  com o passado  são complexas e  ao longo  da História  muitos  pensadores discorreram  sobre esta  relação.Cicero  afirmou  que a “ História  é mestra  da  vida”,contestada  por  muitos  cientistas  sociais  do  século  XX,que  não acreditam  que  o modelo  do passado  seja  absoluto a  ponto de servir integralmente  como  referencial  do presente.
Maquiavel  seguia  muito  esta  visão,tirada  do  Eclesiastes(“ Nada  há de  novo  sob  o sol”)e  elaborou  os seus famosos  conselhos  com  base  neste  padrão.
É claro  que  o  passado  não secreta o futuro.Nos  dias de hoje  temos  muitas  coisas  novas,que nada  têm a  ver com  64.Mas aprendi a  analisar a  vida  social  e politica  de um  modo que  pudesse resumir  sem vulgarizar os  grandes  problemas  que a  sociedade política,isto é,a  sociedade que toma  consciência  de si e  tenta  se dar um sentido,tenta  solucionar.
Eu  vejo a  sociedade  segundo  um  principio de heterogeneidade  que  busca  se homogeneizar.Como um um caos  que tenta  se organizar,um edificio  que  precisa  ser  construido.
O  que  diferencia  os  paises  do G-8  dos  outros,digamos,do terceiro  mundo,em desenvolvimento,é  que  o  movimento  de homogeneização    se cristalizou  em bases  políticas  e  de cidadania que  apontam para uma  disciplina  social,capaz  de dar sentido  a uma determinada  nação.
Certos  povos alcançaram  um  nível de organização,criando uma cidadania  e evitando  uma  tutela  de  poderes  ilegítimos.Cidadania  e  autonomia  dos  cidadãos  marcam uma  viragem em uma detrminada  sociedade.As  coisas básicas,que  são  estas,estão resolvidas.
No Brasil as  coisas mudam  ao bel-prazer  dos de  cima,como aconteceu  na  questão  da  mudança  da lei  orçamentária.Um deputado  chegou  ao cúmulo de dizer  que “  a lei  não  é extática,muda  com o tempo”,sem  lembrar  que  a mudança  constante  destrói  um dos fundamentos da  vida  social,como  eu  disse:a  confiança.
Mudar  demais  é sinal de  descontrole,de  despreparação,de interesse  individual  que  se sobrepõe  ao  coletivo.
Nestas  circunstâncias a tendência  é a revigoração  dos personalismos,dos  populismos,das  figuras  fortes,capazes de  com  “mão segura”  conduzir  o país.É  isto  o  que se  repete  em  sociedades  como   a brasileira,a  falta de uma base impõe  um salvador,uma autoridade,o que  nos  faz  crer  que talvez  Ocatvio Ianni  estivesse  errado  em  falar de colapso  do populismo e também que  nós estejamos  errados  em  sepultar  o passado,64,já  que  ele  está  aí,como fantasma,esperando  que os impasses  deste pântano  político  que  se  tronou o Brasil,o  favoreçam  de novo.
Aliás ,pode  acontecer  o  oposto,o  pântano,a  acefalia, pode  ocupar  o  lugar do autoritarismo,mas isto é  outro  assunto.
Assim nós  temos  que  dizer  que  a relação  com o passado  continua na medida da  sua  influência  no presente e isto  é  uma questão  a ser  sempre  colocada,responsavelmente,não importando  que  tal  constatação seja  usada políticamente.Se  não  tiver influência  não  adianta  pedir  a volta  dos  militares  que  eles  não virão,mas se  tiver,estamos em perigo e precisamos  nos  prevenir.
O que me assusta é que depois de tantas análises demonstrando  os erros cometidos,ainda se vê  radicalismo  no Brasil e muita  gente não se interessa  por História,como se isso  fosse  provocar o passado,mas  ,na verdade,é  a  sua  não-consideração que  facilita  sua  repetição,como disse  o filósofo  estadunidense  George  Santayanna:” Quem não conhece o passado  condena-se  a  repeti-la”.

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