Na relação entre as classes,pode haver de tudo.Não há relação entre caráter e classe.Também não é necessário acabar com as classes para que a essência humana bondosa se realize.A bondade,o bem,estão se fazendo e se destruindo todos os dias. Não é verdade que a burguesia pura e simplesmente vai decidir ,de repente,entregar o poder aos trabalhadores e tudo fica bem. O sistema capitalista,como todo o sistema de classes , é essencialmente resultado de transformações históricas complexas,não uma conspiração contra o antigo regime para a implantação de outro.Não é uma conspiração de homens maus para escravizar os bons ou incautos. Uma das questões mais importantes do chamado teatro político de Brecht é não cair no maniqueísmo,na vitimologia dos pobres,mas mostrar como as relações de dominação se formam,crescem e se estabelecem permanentemente ,e daí,tirando as conclusões,propor a saída política. É repetir ,no mundo moderno,a famosa dialética do senhor e do escravo,base filosófica da transformação da idade antiga em idade média,com a substituição do escravo pelo servo. Quando o escravo grego adquiriu na sociedade romana foros de importância por sua cultura e sabedoria,a barreira que separava-o do seu mestre ruiu,porque ele é quem era o mestre,não o senhor. Depois da Revolução Francesa,os modos pelos quais a humanidade transforma as suas relações foram tidos como subalternos diante deste processos cataclísmicos,arroubos de consciência coletiva aparente,que resolviam todos os problemas (ou destruíam tudo e criavam outros). Na época de Napoleão a burguesia tomou consciência das imensas possibilidades de transformação dos governos a partir de sua atuação como classe do capital,mas na época da acumulação primitiva isto não era tão percebido assim,não era tão claro.E se a acumulação parasse,isto não significaria volta ao feudalismo ou ao mundo antigo como uma leitura tacanha poderia sugerir. Assim sendo ,a compreensão e solução das enormes desigualdades no Brasil e nos outros lugares depende da democracia como regime que confronta estes antagonismos de forma clara.Mas é absolutamente imprescindível que este confronto civilizado se faça da maneira mais clara,mais transparente e dentro das relações de justiça.É claro que esta é maior dificuldade, a que atrasa as mudanças em direção à maioria da população e num movimento dialético esta maioria pode fazer valer os seus direitos e valores se souber transformar maioria não em força ,mas em idéias e em inevitabilidade política para a sua implantação.Se a política,se o Estado forem feitos em nome dela,da maioria(de todos), e não com estes ruídos e perversões que estamos vendo sempre diante de nós.
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