Nos tempos da ditadura fazia
muito sucesso um cientista político chamado Maurice
Duverger(Jarbas Passarinho gosta
muito dele).O seu
sucesso se dava por ele
contestar a visão
de classes da sociedade.Ele dizia
que a verdadeira dicotomia
era entre governantes
e governados.
É claro que
esta dicotomia não define
tudo,mas ela faz parte
da compreensão do processo
político.Hoje,nos Estados
Unidos,depois das denúncias de
Snowden,há um grande medo
de que os componentes dos governos se
coloquem contra os
governados.Este medo já existia
na Era nuclear,principalmente porque todos
sabiam que os governantes tinham
prioridades no caso de uma guerra deste
tipo.Acreditava-se(acertadamente
a meu ver)que aliados às
grandes fortunas , na hora H, grupos de pessoas escapassem do
holocausto e refundassem a humanidade,numa perspectiva
elitista e nazista da política.
Este grande e insidioso pânico
se reflete no filme
humorístico de Stanley Kubrick,”Dr. Strangelove”.
Mas eu
trago aqui esta questão
porque sem deixar,óbvio,a questão
de classe,entendo que a dicotomia
de Duverger tem um certo peso,uma certa
autonomia no quadro político atual brasileiro,pós-eleição.Aliás uma
eleição que parece continuar,com idéias de impeachment,recontagem
de votos,etc.
É claro que
o Congresso,como um todo,oposição e base de apoio de Dilma,não querem consulta popular.Eu já
tratei do tema aqui,sob
outra óptica,mas agora fica evidente que existe uma dissensão
profunda entre governantes e governados.
Era uma oportunidade histórica retomar o sentido conceitual da expressão soberania popular.Dentro da nossa tradição de capitalismo autárquico,como em outros lugares,os políticos não realizam o seu
serviço público em função do povo,mas em
função deles mesmos.Afirmar que o povo
os escolheu de forma absolutamente consciente,sem restrições,eu
já disse,não autoriza os eleitos
agir assim tão arrogantemente.O povo tem
o direito de mudar os rumos da atividade política a qualquer tempo.
Como Dilma(e
Lula)são reféns do PMDB,o mesmo,através
de seu presidente,Michel Temer,já aventou
a hipótese de
descarte,apresentando a possibilidade do
PMDB oferecer candidato próprio em
2018.
E quando se vê,Artur Virgilio Neto,prefeito de Manaus,prócer do PSDB,dizer
que consulta popular não tem sentido,percebe-se
claramente o isolamento da Presidente,e o
perigo de uma imensa cooptação
dos fisiológicos de todos os partidos,pelo PMDB,para continuar o projeto
de um partido único,interessado
em manter as coisas como estão.
O fiel
da balança para resolver este
terrível horizonte futuro,a meu
ver,é Aécio,que precisa se lembrar
dos desejos de seu avô
na redemocratização e compreender
a necessidade de evitar este regime de partido
único,a morte da política e da democracia.
O nosso
medo na década de 70,era
que o Brasil se tornasse
um imenso Portugal.Com a crise
econômica no final desta década,o
medo era se tornar um
imenso Paraguai.Agora,o medo
deve ser se tornar
um imenso México ,oscilando
secularmente entre o desejo de crescer e a realidade
da dependência.
Não adianta o PT
se virar mais à
esquerda,pois o Partido vai ter que
se refundar.É preciso uma
aliança com um pensamento
diferente,um outro de razão,que garanta a dinâmica da democracia
e a possibilidade real de mudança,no
caso bem provável de não vir a reforma política,que os governantes querem
impedir os governados de fazer.
Uma outra alternativa seria um novo partido,social-democrático de fato,mais
à esquerda,mas dentro de uma concepção
moderna,que já tinha sido aventada por
Tancredo em 85.O neto saberá dar continuidade a isto?
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