Benjamin Constant,não o
nosso,mas o francês,original,também republicano roxo e adversário de
Napoleão,escreveu um famoso livro, “Droit Constitutionel", em que definia
uma nova categoria política,usurpação,a partir da análise deste mesmo
Napoleão,que era acusado ,pela dinastia dos Capetos,os luíses,de ser um
usurpador da Coroa.Inteligentemente este autor concordava com esta acusação,só
que,como republicano,por outros motivos.Napoleão usurpara não a coroa,mas a
soberania popular,como os reis o fizeram,segundo ele,durante séculos.Então Luiz
XVIII e Napoleão eram ,para ele,farinha do mesmo saco,ambos governantes
ilegítimos.
A soberania popular,como nós
sabemos,e dizia o advogado Sobral Pinto,nas manifestações da época da abertura,é
o povo,indistintamente,dotado de direitos iguais de participação na democracia.
A soberania popular é um
reconhecimento formal e jurídico eficaz,pois que gera consequências quando este
direito de participação é violado de alguma forma.
A soberania popular barsileira
foi às ruas em nome desta verdade e porque,na prática e para além da eficácia
jurídica,cansou-se de não ver o seus direitos sociais resolvidos pelos seus
representantes,que não são mais do que meras sombras desta soberania.
Os políticos,é bom lembra-lhes
sempre,não existem senão para o povo e não ao contrário.Aquilo lá que eles
fazem não é um emprego como qualquer outro,mas um serviço público estabelecido
em lei,transitório.Na prática sabemos ,também, que existe uma esquizofrenia
geral na política barsileira em vista da inversão deste esquema
fundamental,extremamente alienante,porque o povo,parafraseando a letra famosa
do samba ,é como o pedreiro waldemar," faz o político,mas não tem
nada".
Todo mundo que leu os meus
artigos anteriores,principalmente aqueles no calor das manifestações,sabe que
eu fui favorável ao plebiscito por estar na constituição,mas acrescento,com
estes argumentos que eu coloquei acima,outros motivos ,e acrescento agora a
constatação,para mim,de que as acusações de chavismo daqueles que o recusaram
são prova de elitismo,de medo do povo(EU)opinar.O elitismo usou o chavismo como
espantalho para esbulhar a constituição,que não adianta fazer já que todo
mundo,na hora de sua aplicação, encontrará um mecanismo oportunista para
esbulhá-lha e enfraquecê-la(ver o artigo em que falei em Eliane Cantanhede no
Jô Soares).
Mais do que isto ,eu acrescento
que as propostas elencadas pelo Congresso Nacional há duas semanas expressam
este conceito de usurpação,que reafirma o elitismo e visa reproduzir o estado
de coisas,mostrando o perigo da desmoralização do Congresso e tonitroando o
significado do sistema representativo.Lembrem-se também do que falei sobre o
espantalho da ditadura.Toda vez que alguém critica o Congresso aparece outra pessoa
para dizer que isto é pregação de golpe...
Ainda que nosso sistema seja
representativo a soberania não é e nos momentos mais complexos e decisivos ela
deve se manifestar,como foi o caso no mês de Junho.
Refiro-me à idéia das
circusncrições eleitorais e ao voto facultativo.
Começarei pelo segundo.Fui,sou e
sempre serei contra o voto facultativo e digo porquê.O voto facultativo não é
prova de democracia coisa nenhuma e em lugar nenhum,mesmo nos países ditos
evoluídos polticamente(não sei bem o que é isto...países que fizeram tantas
guerras e cometeram tantas violências).Muita gente acha que a liberdade absoluta de votar torna o corpo social mais
saudável,pela verdade que a negativa do voto,por protesto ou preguiça,parece
provar.Mas não é assim.Votar não é um direito,é um dever de quem participa da
vida social.A liberdade se realiza no dever.O homem livre não é o que faz o
quer ,mas o que tem senso de norma,que tem consciência da limitação.Não
existe,como diz Kant,liberdade sem norma,sem direito,sem certo e errado.veja-se
o nazismo:é certo jogar crianças em fornos crematórios...A pura vontade é uma
falsa liberdade,típica dos liberalismos extremos que preconizam o desinteresse
da política e ajudam assim aos políticos safados,que ficam sem fiscalização e
esta é a razão pela qual,num país como o Brasil,o voto facultativo,proposto não
sei porquê pelos nossos representantes...,aprofundará os graves desvios de suas
atividades,pela falta de cobrança por parte da população,que nos dias de
votação vai para os balneários se desinteressar.Como alguém que não admite
corrupção vai deixar de fiscalizar os corruptos?
Pouca gente sabe que na pátria
do liberalismo,os Estados Unidos,em que existe este tipo de voto,uma democracia
indireta,desde o governo Clinton houve problemas de legitimação porque houve
uma discrepância entre o número de votantes indiretos,bem maior,e os votantes
diretos(soberania),bem menor,o que configura ,em última instância,como disse o
nosso autor do século XIX,USURPAÇÃO,porque ,seguindo a lei,o eleito teria sido
votado por um grupo,que se torna mais importante do que o país e o povo.
Guardadas as devidas proporções
foi isto o que aconteceu,de fato,na primeira eleição de George W.,a qual
apontou Al Gore do partido democrata, como ,realmente,Presidente,mas com estes
quiproquós eleitorais,não sendo empossado.
Finalmente me refiro às
circunscrições eleitorais.O Brasil é sempre o país do jeitinho.Me lembro da
campanha sobre o regime de governo ,parlamentarismo ,monárquico ou republicano
e no presidencialismo ou parlamentarismo,em que não se pensou na eventualidade
dos brasileiros se decidirem por um presidencialismo monárquico,já que as
perguntas do plebiscito eram separadas...(kkkkk).
Um sistema de circunscrição
eleitoral ,tipicamente parlamentarista,num país presidencialista,como vai
ser?Um tipo de cirncunscrição,com um executivo federal e estadual fortes vai
significar que este executivo é que vai controlar a escolha dos representantes
do povo,o mesmo ficando de fora desta escolha.O fato de o representante ser da
região e viver mais próximo do seu eleitor não representa progresso porque quem
vai escolher os deputados é o partido,são as lideranças,como os olhos nas
benesses do executivo.
O regime de circunscrição
eleitoral só funciona no regime parlamentarista ,em que os deputados podem ser
tirados do poder por eleições a qualquer tempo,dependendo do cumprimento dos
programas ou do grau de satisfação da soberania popular.E isto só se consegue
com partidos programáticos fortes,o que não é o caso do Brasil.
De qualquer forma é possível
salvar ,um pouco,este monstrengo,se se colocar, e eu estou propondo aqui,o
sistema que há nos Estados Unidos de recall(movibilidade).De dois em dois
anos,o povo,diretamente,por uma ação específica,poderia pedir a retirada de um
seu representante,por não cumprir o que prometeu.
Estas propostas que saíram do
Congresso soam como USURPAÇÃO,como tranferir a soberania para ele e não mantê-la
com o povo,que foi às ruas.E as minhas propostas e críticas são um apelo para
que sejam rejeitadas.
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