Existe um discurso,muito recorrente diante das manifestações de
rua,calcado no moralismo,segundo o qual a violência é uma atitude
antiética,errada e que é contra a democracia. Vá lá,eu aceito
parte desta assertiva,mas é preciso ter em conta que a violência
está no dia a dia e que explodiu agora ;e quem conhece sociologia e
a sociedade não pode vir apenas com este discurso abstrato e
moralizante.
Os grupos de ação direta manifestam a sua contrariedade há muito
tempo e quem anda de ònibus por aí,nestes péssimos ônibus, vê
nos muros frases como “ está com fome,saqueie”.
Um historiador das mentalidades,Robert Darnton,escreveu em um livro
intitulado “ O Grande Massacre de Gatos”,como certos
acontecimentos aparentemente banais anunciam catástrofes e cita um
grande massacre de cães e gatos,pertencentes aos aristocratas, na
Paris de 1757,como exemplo disto.
Não chego a extremos de dizer que vai haver uma revolução por
causa destes atos de violência,que não são banais,mas é evidente
que a banalidade das frases dos muros da cidade não foi observada
pelos políticos e representantes do povo(autoarrogados às
vezes,como a mídia),que agora completam este descaso,com o discurso
abstrato.
Ainda que a democracia não admita atos de vandalismo,falta de
argumentos,é preciso admitir que certos atos têm significação,como
o privilegiar a destruição de bancos. Cá entre nós deploramos a
destruição do meio de vida de trabalhadores,mas concordamos com
estes vândalos quanto ao caráter igualmente depredatório e
desinteressado das necessidades populares,destes bancos que lucram
estratosfericamente,às custas do governo,ou seja,do povo
brasileiro,parte dele nas ruas.
Então o discurso moralista não pode obscurecer a exigência de
analisar a violência como fenômeno social a ser considerado de
forma séria. E também,como fenômeno moral que toda violência
contém em si. A violência é uma tentativa pervertida de
integração,de integração legítima do povo,no processo
político(estamos no regime da soberania popular)e embora a
destruição seja endereçada a alvos ilegítimos ela atinge a
todos,inclusive aos que jogam pedras,numa postura pequena e suicida
que não se deve aceitar,o subliminar desejo de integração tem que
ser analisado e considerado,dentro de uma “ moral crítica” e não
uma “ crítica moralizante”
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