domingo, 18 de novembro de 2012

Petição de Princípio

Às vezes,ao longo destas postagens,sinto necessidade de explicar os fundamentos que me movem para opinar nestes artigos.Tenho horror da contradição,principalmente quando trato da política.A contradição é o meio próprio do oportunista,que é o projeto mais próximo do traidor.Aquele que não tem critério,faz qualquer coisa e é escravo das maiorias,que não são expressão da verdade(desde que a maioria elegeu Hitler deixou de sê-lo).Aliás ele não é escravo,ele é espiroqueta,ele usa as maiorias para predominar.Ele escraviza aos outros,com estas maiorias,que é a mediação de todas as ditaduras.
Evidente que eu defendo aqui o oposto e por isso gosto de escrúpulos e para ter escrúpulos é preciso ter critérios e fundamentos revisados,analisados,discutidos,pensados,permanentemente,a vida toda,atitude que,como eu já disse aqui,mais atrás,profissionaliza da mesma forma que a academia.
Eu me coloco aqui como o cidadão.A esfera da solidariedade necessária para o progresso da sociedade é a repíblica,a res-pública,coisa pública.A solidariedade republicana é formal e baseada na busca incessante de justiça.O socialismo,como muitos ismos,misturam o público e o privado,criando uma solidariedade pessoal que tem mais a ver com o congraçamento universal da religião,principalmente a católica,do que com o mundo real.
No mundo real não predominam os Francisco de Assis ou Ghandis.Não é o mundo de Rousseau,mas de Hobbes e buscar este congraçamento não é o prioritário,porque muito difícil, e talvez contrário à natureza humana.
As razões da divisão entre os homens não residem só no que mostra o pensamento de Hobbes,mas nas relações materiais de existência,nas divisões de classes e na repartição desigual da riqueza.
Resolver isto é que é a forma de resolver o problema destas divisões.Contudo,não está claro que resolvendo estas questões os homens abandonem outras paixões,tendências egoísticas,desejos irrefreáveis.
Não é certo esperar isto.
De modo que uma postura realista é não misturar os homens,mas mostrar que desde o início da humanidade o que facilitou as coisas para a espécie foi uma coletividade orientada para um determinado fim.
Quando os primitivos se reuniam para caçar podiam enfrentar  e vencer animais maiores,capazes de oferecer mais recursos à sobrevivência,tanto em termos alimentícios como de guarida.
Não adianta as pessoas dizerem,como hoje,que a democracia é consenso.Absolutamente.A democracia é pensar diferente,é antagonismo controlado,é criatividade admitida como normal e não uniformidade do pensamento.Não é mistura,mas discernimento.Não é misturar o privado e o público,dividir as famílias e as mulheres,mas agir segundo a lei na vida privada e agir da mesma forma,segundo a lei e considerando o outro,na vida pública.
O cidadão é este ator,este sujeito,que atua na vida pública.Ele faz política,atua políticamente,quando sai para o trabalho e é nesta condição que eu me coloco.Eu faço política,atuo polticamente,pensando diferente aqui,manifestando com liberdade a minha formação e aptidão adquirida no esforço.
Hoje a política não é feita segundo o princípio da soberania popular.Em nenhum lugar do mundo.Nem nos parlamentarismos.Existe uma distinção entre os esquemas de cima e os " de baixo" ,os cidadãos,que acham que o seu papel é só votar com má vontade.
Quero,aqui,mudar isto,ou apenas,protestar.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Uma Filosofia brasileira?

Todos os grandes pensadores do Brasil,como Darci Ribeiro e Gilberto Freire,são unânimes em afirmar que o Brasil é um  país moderno,pois tem indústrias modernas,tecnologia moderna e assim por diante.Contudo nós somos um país reflexo dos outros,dos países centrais.Não temos  a patente das realizações.
Não é diferente no caso da cultura.Como legatários da tradição portuguesa,nós recebemos uma herança sem Renascimento,sem as mudanças da transição da Idade Média para a sociedade moderna,como aconteceu nos outros países da Europa.
Esta tragédia histórica,cujas causas estão na influência totalitária da Igreja Católica,criou esta situação de dependência externa,que não é só econômica,mas cultural e tecnológica.
A saída para este estado de coisas é o desenvolvimento,a partir da criação original e própria do nosso paísdas,de idéias que fundamentem tais realizações.
E aí vem a pergunta recorrente segundo a qual se temos tantas pessoas capazes,tantos intelectuais e cientistas,porque não nos ombreamos aos outros países.Muitos respondem a isto dizendo que os países centrais são mais antigos e por isso possuindo mais experiência são capazes de produzir sempre algo novo e original.Isto é uma meia-verdade.Outros dizem que é porque eles possuem o controle do maisntream e da propaganda.Eu não comungo desta opinião.
Em primeiro lugar,originalidade não existe,de vez que ex-nihilo nihil,do nada não nasce nada.Originalidade quer dizer, acima d e tudo, que a idéia ou a criação original são novas e são ,a partir de criadas ,fonte primeira de outras idéias e realizações.
O Brasil pode discutir se é o país do futebol,mas quem criou o futebol,quem inventou o futebol não foi o nosso país.Que nós temos reconhecimento nesta área em nível de primeiro mundo é verdade,mas a nossa realização provavelmente não vai ter transcedênncia transhistórica ou validade transhistórica(ou seja terá importância do mesmo jeito para outras épocas além daquela em que foi criada).
O que nos falta é esta originalidade e ,no meu entender,ela só pode ser criada,ou as condições de seu surgimento,no processo de acúmulo de conhecimentos e experiências,de um determinado povo.
Por isso disse que os povos centrais conseguem o que conseguem porque possuem esta experiência e este acúmulo de conhecimento.
Não tem nada a ver com lingua ou com espirito do povo,tem a ver com o que cada geração faz e deixa para a outra.
Euclides da Cunha já tinha dito :" No Brasil o que uma geração ganha a outra perde"e Mário de Andrade afirmava que para uma geração possuir um grande poeta era preciso outros bons poetas à sua volta.
Eu lembro aqui que em volta de um Chaplin havia dezenas de outros grandes cômicos,como em nenhuma outra época.Em volta de Einstein,outros grandes físicos e assim por diante.
Lembro também de uma das últimas entrevistas dadas por Tristão de Athayde,Alceu Amoroso Lima,ao Pasquim,em que ele dizia que qualquer pessoa que entrasse em um vilarejo da Europa e conversasse com um camponês ele saberia dizer onde um grande pintor menos conhecido tinha vivido e assim por diante,revelando que existem muitas figuras importantes desconhecidas e que o camponês médio de uma França ou Alemanha tem um nível cultural maior do que o nosso..
Shakespeare e Dante são universais e epocais como todo transcendente transhistórico é.Como todo modelo histórico  e cultural é.Eles são capazes de resumir toda a experiência humana e tudo o que se fez de mais importante na sua época,a qual,por sua vz,expressa  todo um passado de experiências que chegou até eles,através de todo o Renascimento que durou 200 anos,no mínimo,para o caso deDdante e 300 para o de Shakespeare.
Machado de Assis ou Carlos Drummondde Andrade são importantes para nós mas não são universais.A filosofia brasileira é importante pra nós mas ela não é universal e é caudatária do que se faz fora.Para superar isto teremos que superar as barreiras postas por estes autores citados,principalmente Euclides da Cunha.
 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O Papel da Filosofia

Uma das questões mais importantes de minha atividade de professor de filosofia e que tive que enfrentar sempre foi a  da sua utilidade.A Filosofia é tida como algo que só pode ser  exercitado por vagabundos com dinheiro.Contudo este tipo de visão me parece nos reportar a um erro que o senso-comum tem em relação a ela e que foi difundido pelo cientificismo do mundo moderno,segundo o qual discutir sexo dos anjos ,a relação da alma com o corpo são inúteis,bem como a natureza de Deus e sua existência mesmo.
Até crentes de diversas religiões reproduzem este pensamento,mas eles não sabem,como a maioria não sabe ,que o fundamento de suas concepções está na filosofia.Não há uma religião que não tenha no pensar filosófico a sua base.
Até as religiões africanas têm ligação com o pensamento,que é matéria da Filosofia.
O senso-comum,não afinado com a  religião ,também por outras razões ,acusa a filosofia.O cientificismo do século XIX afirma que só os saberes úteis,quantitativos,com uma expressão econômica imediata ,são importantes.Ele repete um conceito que já era comum na Igreja Católica da Idade Média,para quem a filosofia deve se submeter a uma coisa mais importante do que ela e que a deveria dirigir.
No caso da Igreja,Deus,evidentemente intercedido por ela.No caso do cientificismo a utilidade com relação à vida é o princípio diretor da atividade filosófica.Menos que isso,para a ciência a filosofia nem devia existir.
Acrescento um outro utilitarismo recente,que bem pode ser associado ao cientificismo:o marxismo.Só que este tem uma maneira mais refinada de  dizer que a filosofia nem devia existir,afirmando que,como a literatura,a filosofia é um divertimento que alivia o sofrimento mas deve deixar a solução dos problemas para o...marxismo.
A filosofia,no entanto,estabeleceu as bases das religiões como já disse.Estabeleceu os princípios do pensamento e da linguagem que permite a muitos dizerem estas baboseiras.Sem isso a ciência não podia ser feita.
A Filosofia como qualquer saber humano erra e comete até erros com consequências ruins para a humanidade,mas isto não é privilégio dela,porque foi a ciência que dotou os homens de instrumentos de destruição de massa;foi a religião quem criou as fogueiras da inquisição e foi o marxismo quem permitiu em seu seio alguns dos maiores carrascos das pessoas inocentes ,de Stalin a Pol Pot.

sábado, 3 de novembro de 2012

O revolucionário

O revolucionário,e eu uso esta expressão no sentido geral,ou seja,aquele que quer mudar(mesmo que seja com reformas),não pode nunca ser institucional,no sentido de aceitar o princípio da tutela,tanto ativa como passivamente.Ele não é inimigo do princípio da justiça ,que o Estado eventualmente administra,mas é a vida,o conceito de justiça,que precede e fundamenta o Estado.
O marxismo que identificou o direito com o Estado(sem saber que direito quer dizer justiça),colocou o revolucionário,na média,contra o Estado e o Direito.No processo gorado da autoreforma do socialismo, a incorporação do Direito teve o efeito contrário de colocar os agora pseudo-revolucionários como integrantes do Estado,co-partícipes dele.Esta postura subverte o sentido inicial da oposição entre revolução e Estado,mudança e Estado.
Ser a favor da instituição é ser contra o movimento,porque a forma em geral se sempre legitimada,paralisa.Além do quê colocar algo fora de si como fundamento de si é como andar de cabeça pra baixo.Não é à toa que a religião cristã ao se tornar católica,pela identificação com o Estado Romano,criou formas de idolatria e culto ao Estado e ao chefe para induzir à paralisia e aceitação da tutela da mãe igreja.
No processo de democratização da revolução,a estratégia democrática e reformista da mudança não impõe por princípio a aceitação da tutela,mas a participação crítica intitucional,no Estado e nos seus departamentos,universidades,órgãos de decisão e mesmo no setor privado,onde há forte responsabilidade pública.(como enter outros a universidade).
Para um revolucionário,repito,no sentido geral,ser crítico ao mainstream e participar dele é contraditório.Não sei se é possível acabar com o Estado mas o sentido de mudança não é acrescê-lo ou inchá-lo,mas diminiui-lo(como querem os liberais) e dentro das universidades ele deve participar mas de modo crítco,sem reproduzir os esquemas de poder ou,no caso das universidades particulares apoiar a reprodução do capital,ao arrepio da qualidade de ensino.
É preciso mapear os direitos e deveres do revolucionário em nossa época tão cheia de incertezas.
O conhecimento é de todos,todos têm que produzir,pelo esforço.Não há revolucionário escolarino,ou seja,que só aceita o conhecimento que vem da escola,mas ele o procura também e o produz,PELO ESFORÇO,sem mamãe mandar,desde pequeno.
Uma das coisas terríveis do marxismo é ter privilegiado,em detrimento deste esforço,a teoria,só podendo fazê-la o gênio,como Marx.Na verdade ele mesmo,na "Ideologia Alemã",afirma que criando tempo livre,todo homem poderia produzir obras de elevado nível (Hannah Arendt trabalha esta idéia pelo viés liberal em outro livro importante " A Condição Humana").Dentro desta contradição podemos ver que o revolucionário é senso de justiça,vontade fundada e busca e produção de conhecimento.

Futebol e amazônia ou o futebol como o início da consciência política

Pode-se entender muito do Brasil analisando o futebol.Não é que se possa explicar o Brasil só pelo futebol,mas parte dele sim e principalmente só se entende o dia-a-dia do Brasil,em quatro mediações:quando se entra  frequentemente num táxi;na relação com seu parceiro ;assistindo novela e ...no futebol.A visão da política,a relação amorosa,perpectivas de futuro,tudo se resume nas discussões sobre futebol.Quem o acompanha acaba sabendo.
No caso da amazônia,o futebol também contribui,pois a exclusão dos clubes amazônicos(e de outros lugares do Basil) da partilha do capital,que ocorre,a partir do clube dos treze,no sudeste e em relação à FIFA,demonstra um mecanismo claro de colonialismo ,de imperialismo,que continua.Até mesmo do ponto de vista simbólico vemos isto.Em 1997 Edmundo era o maior atacante do mundo,mas como hoje,só o jogador que atua na Europa recebe o prêmio de melhor do mundo.
A exclusão dos clubes amazônicos é justificada pelos grandes centros porque supostamente lá não estão os melhores jogadores e as maiores torcidas,dois conceitos falsos.Muitos jogadores que fazem sucesso no sudeste vieram de lá(Bebeto ,da Bahia) e a potencialidade de crescimento das torcidas é imensa,basta lembrar como ficou o estádio do payssandu,quando este time enfrentou e ganhou há quatro anos o Boca Juniors.
Esta estratégia se conecta com outra,referente à própria amazônia,onde se joga um discurso que não existem grupos sociais autótocnes ou que são poucos e sem organização e que portanto é preciso dominar estas regiões  sem levar estes grupos em consideração,tanto em suas necessidades,como em seus direitos políticos.
É a reedição da política da ditadura,desde a transamazônica,pela qual era preciso "levar o homem  sem terra do nordeste para ocupar a terra  sem homens da amazônia".
Esta política continua até hoje em diversos empreendimentos econômicos,privilegiando a relação entre capital nacional e estrangeiro,bem como o latifúndio,a extração pura e simples do minério e ,subliminarmente,favorecendo o imperialismo,o neocolonialismo,na medida em que se passa a impressão de que só a civilização estrangeira é capaz de fazer a amazônia prosperar.No futuro,se isso se tornar um conceito hegemônico,só o estrangeiro deverá cuidar dela.
Tanto a televisão,como os patrocinadores e os clubes endividados brasileiros enveredam por este mesmo caminho aceitando já  a tutela desta civilização superior não só por não protestar pela não premiação de Edmundo mas por ganhar dinehiro com jogadores feitos nestes clubes e que são vendidos para jogar a vida toda no estrangeiro,inclusive em lugares estranhos e sem futebol,como a Arábia e a Ucrânia,o que é uma flagrante desnacionalização(vestíbulo do domínio imperialista e condição de sua hegemonia),já que o certo era que este jogadores devolvessem o investimento dos clubes aos mesmos gerando rendas em grandes jogos.
Mas os sobas do futebol,estes péssimos dirigentes esportivos brasileiros,os empresários de jogador,a televisão e os patrocinadosres fazem o jogo do capitalismo predatório periférico do Brasil,periférico porque gerado no colonialismo,cujo pacto continua até aos dias de hoje,como se vê,sendo o futebol,uma medida clara e próxima do povo,o qual devia analisar e compreender.